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  • Caio

É preciso formar atletas focadas no coletivo e não no individual

Atualizado: 5 de jun. de 2020

As Seleções Femininas do Brasil tem apresentado um padrão de jogo questionável nos últimos tempos, padrão não muito diferente das muitas equipes que atuam no futebol feminino nacional.

O que vemos tanto na seleção adulta quanto nas seleções de base são equipes com pouca visão de jogo, jogadoras que carregam demais a bola, chutões para se livrar da bola, posicionamento equivocado o que faz o time correr mais do que o necessário e a esperança de que talentos individuais resolvam jogos e ganhem campeonatos.

O mais curioso é que isso não acontece de um ano pra cá, mas de muito mais tempo. Já víamos nossas seleções nessa dependência cerca de 4 anos atrás.

Creio que o problema está em todo o processo de desenvolvimento de atletas do nosso futebol feminino, que é praticamente inexistente, uma vez que a formação da atleta começa de forma muito tardia.

A formação deveria começar a partir dos 7 anos, que chamamos de “fase de movimentos especializados” onde os movimentos fundamentais (andar, correr, pular, se equilibrar, arremessar e pegar coisas) já estão maduros e servem de base para um desenvolvimento motor refinado e mais complexo, onde equilíbrio, corrida e controle de objetos possam ser combinados, como por exemplo, andar ou correr conduzindo uma bola de futebol com os pés enquanto executa movimentos sinuosos entre cones. Nessa fase as crianças devem receber estímulos variados para o desenvolvimento motor geral sem estar associado especificamente a um único esporte para não restringir as habilidades.

Posteriormente, ao chegar aos 11 anos, deveríamos entrar na “Fase de Aplicação” onde a evolução motora associada ao desenvolvimento cognitivo auxiliaria na tomada de decisões dentro das habilidades do indivíduo e da modalidade escolhida. Dos 11 aos 13 anos é a fase propícia para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados, atividades de liderança e em esportes.

Consequentemente, passando bem por estas fases, chegaríamos ao auge do processo de desenvolvimento motor que tem como característica a utilização das habilidades adquiridas ao longo deste processo por toda vida, refinando movimentos e habilidades das fases anteriores e aplicando em atividades cotidianas, recreativas e/ou esportivas.

O que temos hoje são meninas chegando aos clubes ou à equipes adultas sem ter vivenciado ou vivenciado de forma adequada as fases anteriores do desenvolvimento motor e cognitivo dentro do futebol o que proporciona buracos de aprendizado e refinamento motor que comprometem ou que fazem com que se demande muito mais tempo do que o seria necessário caso as vivências já tivessem ocorrido de forma satisfatória, para que se tente ensinar/preencher os buracos ou para tentar refinar habilidades fundamentais que encontram-se presentes de forma rústica.

Não é por acaso que temos jogadoras com pouca visão de jogo, dificuldades de escolhas de jogadas dentro de campo, assim como a dificuldade de trabalhar em equipe explorando muito mais suas qualidades individuais não suficientemente desenvolvidas de forma individual do que utilizando suas qualidades para que o trabalho em equipe torne o jogo mais fácil.

Aí está a grande necessidade de realizarmos muito mais do que um trabalho com seleções, e sim focarmos em ações que desenvolvam a base a partir de pelo menos equipes sub-13 para que assim tenhamos muito mais qualidade coletiva do que a eterna dependência apenas dos talentos individuais.

Dependemos dos talentos individuais pela nossa incapacidade de formar atletas desde a base para que tenhamos equipes diferenciadas e não apenas jogadoras individualmente diferenciadas.

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