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Times masculinos querem o Futebol Feminino “de presente”

Recentemente circulou na internet através das redes sociais a situação das atletas de um “CLUBE X” onde estavam há cinco meses sem receber, comendo arroz com feijão e farinha, sem nenhum suporte.

O “CLUBE X”, em sua defesa, divulgou nota informando que o projeto não era do clube e foi oferecido por terceiros que se comprometeram a arcar com todos os custos de atletas e comissão técnica baseado em contatos e possíveis parcerias que eles teriam.

Resumindo, seria mais ou menos assim: “Nos ofereceram! Para o clube “sairia de graça”! Nós, apesar de ceder nossa imagem, camisa e brasão, ao que parece não fiscalizávamos nada e não sabíamos de nada que estava acontecendo. Não sabíamos quem eram as atletas, qual o nível e capacidade do time, aceitamos o projeto feminino somente porque se tornaria obrigatório em breve pela CBF e Conmebol. Não temos culpa de nada e agora vamos processar os responsáveis por expor e desgastar a imagem do clube e todos aqueles que contribuíram na divulgação deste desgaste”.


Vamos tentar entender: Você cede sua imagem e autoriza um projeto e não incumbe ninguém de fiscalizar, cobrar e acompanhar o desenvolvimento do trabalho e o cumprimento das promessas e metas apresentadas? Será que esse projeto foi apresentado em papel de pão? Você vai ter um time feminino, mas não faz ideia de quem serão as atletas, nível do time, qual capacidade terá e que metas alcançará em competições?

Desculpe, mas vejo descaso com a modalidade por parte do “CLUBE X”, sendo este também responsável por todo o ocorrido uma vez que negligenciou a categoria feminina que o clube aceitou ter quando concordou com o projeto, seja lá em que moldes isso foi feito, aceite que fica claro na nota divulgada. Então não adianta querer tirar o corpo fora nesse momento! (Mas claro, este é apenas o meu ponto de vista).

O que quero dizer na verdade com o exemplo do “CLUBE X” é que situações como essa deixam bem claro que os clubes do futebol masculino NÃO QUEREM GASTAR DINHEIRO COM FUTEBOL FEMININO porque ele não dá retorno imediato, uma vez que a modalidade é desorganizada e mal gerenciada no país do futebol dos homens e tem o futebol feminino hoje apenas como oportunidade de garantir cumprimento de obrigatoriedade da CBF e Conmebol.

Na minha visão que acompanho de perto o futebol feminino há mais de 10 anos e sou casado com uma ex atleta, vejo a modalidade como um grande produto que apresenta diversas possibilidades de ampliar alcance da imagem do clube, conquistar de títulos nacionais e internacionais, possibilidade de ter o nome do clube associado à seleção por conta de jogadoras que tem possibilidade de ser convocadas, e muitas outras questões.


Até mesmo referente ao marketing, à presença das mulheres e famílias nos estádios, venda de produtos e engajamento dos clubes na luta contra o preconceito e a violência contra a mulher. Não fazem porque não querem e são preguiçosos, pois muito se poderia fazer com e através do futebol feminino.

Eu e amigos que fizeram parte do grupo de trabalho do Ministério do Esporte por cerca 3 anos, cansamos de dizer que a entrada dos clubes de “camisa e tradição do futebol masculino” sempre será sim bem-vinda ao futebol feminino, porém com regras e desde que estes clubes invistam de verdade na modalidade e desenvolvam não só o futebol feminino adulto (profissional) como futebol feminino de base, clínicas e escolinhas, com pesos por ano de atuação com futebol feminino e competições estaduais disputadas como critério para poder pleitear uma vaga em um Brasileirão feminino, por exemplo.

Infelizmente, da forma como o futebol feminino no Brasil é conduzido, a modalidade se tornou apenas um quebra galho para atender às normas do Profut, CBF e da Conmebol e nada além disso.

Os clubes não querem tirar nenhum real de seus ricos bolsos para investir em futebol feminino afinal é mais fácil manter um jogador ruim ganhando 150 mil por mês pra errar naquilo que ele ganha extremamente bem pra fazer do que manter um time feminino.

Estes clubes e seus gestores tem uma visão extremamente limitada (e possivelmente machista) sobre o esporte e desconhecem a capacidade de divulgação, melhoria de imagem institucional e fortalecimento de marca que não só o futebol feminino, como outros esportes, podem trazer aos seus clubes.

Quando se trata de futebol feminino, estes clubes apenas cedem suas camisas e no fim, quando der algum problema, apenas dirão que a responsabilidade é apenas de quem levou o projeto até o clube e que a instituição nada tem a ver com isso.

Segundo Parks & Zanger (1990), nos EUA a área de atuação do profissional administrador do esporte é diversificada e se concentram no esporte educacional escolar e universitário, no esporte profissional, na gestão de equipamentos e arenas esportivas, programas recreativos, agencias de esporte comunitário e de participação, em informações e marketing esportivo, jornalismo, clubes, indústria esportiva, centros de fitness, treinamento atlético e medicina esportiva, atividades aquáticas e empreendedorismo e consultoria esportiva.

Nem precisamos fazer esforço de comparar com a visão da gestão do esporte no Brasil. Os gestores esportivos brasileiros, os cartolas perpetuados no poder veem o esporte apenas como forma de ganhar dinheiro e cumprir exigências mínimas. Nada mais.


Do que adianta fazer um Campeonato brasileiro de série A e B, se não existe fiscalização de nada da modalidade no Brasil e situações como a do “CLUBE X” e de tantos outros clubes que já passaram por situações semelhantes e de atletas que já sofreram com diversos problemas de salário, estrutura, assédio moral e assédio sexual, ficam sempre impunes?

Muitos pensam que o futebol feminino está em evolução, mas enquanto não houver nenhuma fiscalização a modalidade desce a ladeira em que ninguém perceba ou queira de verdade perceber.

A palavra e ação para a evolução do futebol feminino precisa ser FISCALIZAÇÃO!

Fiscalização que precisa existir tanto para os Temos que valorizar os times de camisa do futebol feminino que já existem e lutam pela modalidade há anos quanto para os clubes de tradição do masculino que tendem a entrar na modalidade para se beneficiar por conta das exigências de ter equipes feminina. É necessário fiscalizar, cobrar e punir para que todos os clubes evoluam, a qualidade técnica e estrutural da modalidade cresça de verdade e para que erros primários deixem de ser cometidos.

Ceder a camisa é muito pouco! Da forma como é feito hoje não ajuda em nada no crescimento da modalidade. O futebol feminino mais ajuda os clubes do que os clubes lhe ajudam! Essa é a realidade!

E onde estará a CBF para fiscalizar a modalidade? Governo, sindicato de atletas, federações estaduais? Se alguém descobrir, me conte, porque nenhum destes até o momento, nos últimos anos demonstrou preocupação com as meninas e mulheres que jogam futebol e a realidade do futebol feminino brasileiro.

Enquanto não houver fiscalização, quem entra continuará feliz e querendo o futebol feminino de graça. Investir pra que se eu posso apenas dar minha camisa e meu nome, sem me preocupar com nada e sem ter ninguém pra cobrar de mim?

O futebol feminino está e sem fiscalização continuará sendo usado!

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