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  • Rogger da Costa

PARTICIPAÇÃO DO GOLEIRO É EVOLUÇÃO NATURAL DO JOGO

Nos últimos tempos, virou cada vez mais comum vermos times brasileiros apostando numa saída de bola de pé em pé, sem os tradicionais “chutões” dos goleiros. Tem gente que acha arriscado, perigoso demais. Eu acho imprescindível, pela evolução do jogo.


​O futebol é uma disputa de tempo e espaço. A marcação é cada vez mais forte, e isso faz com que o jogador tenha que tomar uma decisão em um segundo ou menos enquanto é pressionado pelo adversário e vê os espaços diminuírem.


Se o goleiro faz parte do jogo, a matemática mostra a vantagem: uma opção a mais de passe e a sobra de um jogador sem marcação. Ficam 11 contra 10, já que o goleiro adversário não vai sair da meta para marcar.


Claro que a prática não é tão simples quanto os números, e a saída de bola por baixo gera um risco. Mas tem alguma ação do jogo 100% segura? Um chutão não pode gerar contra-ataque rápido do outro time, se ele recuperar a bola pelo alto e já ligar um atacante na frente?


Até pouco tempo atrás, os poucos treinadores que ousavam colocar seus times para sair jogando no Brasil eram massacrados. Muitos foram chamados de “professor Pardal”. Agora, com a vinda de técnicos estrangeiros que também usam essa estratégia, o debate evoluiu, há um entendimento maior sobre os benefícios de uma saída de bola bem executada e mais equipes tentam adotar essa forma de jogar.


Mas se a simples saída do goleiro com os pés já gera calafrios em alguns, imaginem o que aconteceria se ele avançasse até quase a linha do meio-campo para participar ativamente da construção do jogo? Há um time no Brasil que faz isso: o Corinthians feminino, comandado pelo técnico Arthur Elias.


Uma reportagem do Esporte Espetacular mostrou que a goleira Lelê, campeã de tudo com a equipe alvinegra nos últimos quatro anos, avança tanto a ponto de às vezes ultrapassar o círculo central para dar opção de passe ao seu time na construção das jogadas. Uma goleira-linha, praticamente.


A estratégia tem explicações. Os números mostram um risco calculado, já que o Corinthians tem 50 gols marcados em 18 jogos e só oito sofridos. As adversárias, em sua maioria, jogam bastante recuadas para tentar frear o ímpeto do ataque corintiano.


Nenhum movimento da goleira, nesse caso, é aleatório. Ela não vai chegar até o meio-campo se não sentir que há espaço para isso. Tudo depende da forma como o jogo se apresenta para o Corinthians e da leitura que Lelê faz para decidir sua movimentação. Às vezes ela erra? Claro, como todo jogador pode errar. O trabalho do técnico, em conjunto com seus atletas nos treinamentos, é justamente minimizar esse erro. Anular o risco é impossível.


Faz parte da função do treinador encontrar soluções para os problemas que se apresentam, só que, quando a solução difere demais do que é feito pela maioria, ela imediatamente gera questionamentos. Isso barra a evolução do jogo. Por que o diferente é sempre "inventar moda"?


É inegável que futebol feminino e masculino se encontram em estágios diferentes no Brasil e no mundo.


Até cinco anos atrás, não havia categorias de base no feminino. O início delas no esporte ainda é tardio, a formação ainda é privilégio de poucas, mas é interessante notar e discutir a evolução tática que acontece no futebol dos homens e também no das mulheres.


A impressão que fica é que, cada vez mais, o goleiro e a goleira farão parte do jogo. Isso pode mudar até mesmo a formação dos atletas para essa posição, exigindo mais qualidade com a bola nos pés. No futuro, a saída de bola “perigosa” poderá ser a única saída.





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