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“Orgulho de ter começado aí”, Dida relembra época na roça

Atualizado: 18 de mai. de 2020

Por Josué Seixas (@josue_seixas) e Rafael Brito (@rafaelbritom)

Ao chegar a Lagoa da Canoa, uma pequena cidade no interior de Alagoas, Nelson de Jesus da Silva não imaginava que se tornaria um dos melhores goleiros de todos os tempos. Começou a encarar a vida desde pequeno, como ele mesmo diz. Ajudava em casa, trabalhava na roça, estudava e tinha tempo para brincar e se divertir. Quando chamaram Nelson de Dida, ninguém imaginava que aquele nome seria eternizado no hall da fama do Milan e da seleção brasileira.

O apelido surgiu muito cedo. A história contada pela mãe do atual preparador de goleiros do Milan é de que ele era chamado assim por uma vizinha quando brincava na rua. Surgiu praticamente do nada, mas foi ganhando força. “Talvez fosse difícil me chamar de Nelson”, brincou. Ele também conheceu a história do Dida, segundo maior artilheiro do Flamengo, e até vê semelhanças entre os dois.

Dida jogava como goleiro sempre nas brincadeiras de família. Estavam juntos os irmãos e amigos, e ele já ia para o gol. Quando criaram o Flamenguinho, não tiveram dúvidas: chamaram-no para assumir a posição. Na época, tinha 13 ou 14 anos. Dali em diante, o goleiro foi só crescendo. Até jogou em times com nomes que geravam discussões. Primeiro, chegou ao Trovão Azul. Depois, no Águia de Fogo.

Foi no Cruzeiro de Arapiraca que as coisas realmente deram certo. O time até está voltando às atividades. “O Cruzeiro de Arapiraca veio fazer uma amistoso contra o Águia de fogo e eu estava jogando no gol. Fui bem no jogo, e o diretor me chamou para que eu fosse treinar junto com os goleiros profissionais do Cruzeiro. Me lembro que o Dentinho, centroavante do time, me falou que eu poderia me tornar um grande goleiro e que deveria treinar muito para isso acontecer. Todos me receberam muito bem no clube, o clima era agregador e muito família, me sentir realmente em casa”, contou.

Saber que o Cruzeiro de Arapiraca tinha voltado às atividades até alegrou Dida. Ele ficou sabendo por um irmão e até tem o contato do presidente. A expectativa, segundo o ex-goleiro, é que o time consiga revelar novos craques ao futebol e que o clube tenha muito sucesso. Mesmo nascido na Bahia, muitas raízes ficam em Alagoas. Isso é motivo de orgulho.

“Era difícil imaginar que jogando no interior de Alagoas eu pudesse sonhar tão alto. Eu gostava de ser goleiro, e me dedicava à profissão, queria sempre melhorar para ajuda aos meus companheiros de clube, esse era o meu pensamento naquele momento. Na grande maioria das vezes, eram os jogadores de nome que chegavam para jogar nos clubes alagoanos”.

As visitas à Bahia e Alagoas continuam. Dida diz que sempre gosta de visitar os amigos e irmãos que continuam morando na cidade do interior de Alagoas. É bem recebido e gosta de retribuir o carinho de todos nos dois estados.

Olhando para a vida em Lagoa da Canoa, o ex-goleiro relembra de jogadores que saíram do mesmo estado. Marta, Roberto Firmino, Willian José, Pedrinho, Cleiton Xavier, Gilberto, Geyse, Otávio… São muitos. E o sentimento que fica, sobre todos eles, é de felicidade.

“Com toda certeza, existem muitos outros ainda que vão trilhar esse mesmo caminho, pois existem grandes jovens que, às vezes, não têm essa oportunidade de seguir jogando sempre, justamente pelas dificuldades enfrentadas no dia a dia de quem mora no interior de Alagoas. Aí existe um verdadeiro celeiro de craques, cada um buscando uma brecha para demonstrar seu valor. Eu saí desse celeiro e me orgulho muito de poder dizer que minha carreira começou em Alagoas”.

“Nunca passou pela minha cabeça que um dia eu iria sair para algum outro clube” Do Cruzeiro de Arapiraca, Dida foi para o Vitória e depois seguiu para o Cruzeiro de Minas Gerais. Esteve por empréstimo no Lugano e no Corinthians. Depois, veio a fase mais memorável da carreira em clubes. Foram dez anos no Milan, onde venceu um campeonato italiano e duas Ligas dos Campeões. Era exímio pegador de pênaltis. Nas transmissões, Galvão Bueno exclamava: “Se for no canto direito do Dida, o Dida pega”.

Pela Seleção, também marcou época. Três Copas do Mundo e um título. Foi terceiro goleiro em 98, reserva e campeão em 2002 e titular em 2006. Venceu uma Copa América e duas Copas das Confederações.

“Uma coisa eu posso dizer, foi tudo muito rápido. Eu gostava de ser goleiro, e me dedicava a profissão, queria sempre melhorar para ajudar aos meus companheiros de clube. Acredito que minha ascensão a nível nacional e internacional foi devido acima de tudo pelo meu trabalho dentro dos clubes. O reconhecimento veio através do chamado para defender a Seleção e o interesses de clubes de fora do Brasil. Desta maneira você sabe que está no caminho certo”, contou.

De tudo, Dida afirma que foi uma grande experiência. Vencer uma Copa do Mundo, segundo ele, é a melhor coisa que alguém no mundo do futebol quer conquistar. Até hoje ficam as amizades com jogadores contemporâneos, como Serginho, Roque Júnior, Ronaldo, Ronaldinho, Leonardo, Cafu e outros. São todos grandes amigos. Essa ideia sempre marcou o ex-goleiro: “Em todos os clubes por onde passei, tive a felicidade de sempre fazer grandes amizades, sem nunca ter problema com ninguém. Acredito que respeitar as opiniões dos outros me ajudou muito nisso”.

Formando novos jogadores em um novo futebol Recentemente, Dida foi anunciado como preparador de goleiros do Milan. Ele diz que vinha estudando há alguns anos, fazendo cursos no Brasil e na Itália, para ser treinador. Recebeu algumas oportunidades, mas nenhuma delas tinha interessado. Voltar para um lugar que pode chamar de casa, então, foi a oportunidade perfeita.

“Estou na divisão de base do clube, trabalhando como preparador de goleiros. Eu posso crescer muito permanecendo dentro de um clube que tem a estrutura do Milan. Está sendo ótimo trabalhar com a garotada. Esse contato é muito gratificante e é uma grande aprendizagem para mim, porque espero realmente contribuir para evolução desses jovens”.

Sobre as exigências dos goleiros, Dida faz um paralelo entre a época dele e a atualidade. “Está se exigindo mais dos goleiros, principalmente na parte de construção do jogo. Jogar com os pés é um fator importante hoje em dia. Os goleiros brasileiros estão treinando para se adaptar a essa nova forma de fazer o jogo e estão acompanhando essas exigências”.

Hoje, todo mundo chama de Dida Aos 45 anos, Nelson é reconhecido no mundo inteiro. Chamá-lo de Dida é usual. Viveu a época de ouro no Milan, fez a alegria de muita gente nos jogos de videogame. Nascido em Irará, na Bahia, encerrou a carreira no Internacional, em 2015. De Lagoa da Canoa, que tem aproximadamente 18,5 mil habitantes, foi para o mundo. E está na história.

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