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O primeiro Goleiro da história da Seleção Brasileira

Atualizado: 30 de jul. de 2020

Em meio a craques populares como os atacantes Friedenreich e Neco, um goleiro conseguiu se consagrar como um dos preferidos da torcida brasileira no título sul-americano de 1919. Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro da história a defender a meta da seleção e cumpriu o seu papel com verdadeira maestria, já que naquele ano foi o menos vazado da competição, com três gols sofridos. Sua fama se estenderia por outras gerações, como conta Bárbara Heliodora, famosa crítica de teatro e filha do ex-jogador.

Marcos detém até os dias atuais o título de goleiro mais jovem a ser selecionado, pois tinha 19 anos quando de seu primeiro jogo, contra o Exeter City (2×0 para a Seleção), da Inglaterra, em 21 de julho de 1914. Sendo titular da seleção brasileira por 9 anos.

Marcos começou a sua carreira no time do Haddock Lobo, com a fusão com o America passou a defender o time rubro, onde foi campeão carioca de 1913. Estreou pelo seu primeiro clube, justamente contra o Fluminense, clube ao qual dedicaria grande parte de sua vida. Assim como dezenas de sócios e atletas do America, descontentes com a diretoria, Marcos se transferiu para o Fluminense em 1914, tendo sido seu goleiro titular até 1922.


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“Houve uma história muito emocionante para mim. Na final da Copa de 1950, a família estava toda lá presente acompanhando a partida nas cadeiras. No fim do jogo foi aquele silêncio horroroso, inesquecível, uma coisa angustiante depois do 2 a 1 do Uruguai. Quando saíamos do Maracanã, um senhor parou repentinamente diante do meu pai e disse que se ele estivesse lá, o Brasil não perderia. Depois de 30 anos, o cara ainda se lembrava de como ele agarrava”, narra Bárbara, em entrevista exclusiva ao Globo Esporte.

O episódio retrata bem a importância que Marcos de Mendonça teve para a consolidação do futebol no país. Talvez o senhor que o abordou em 1950 ainda tivesse viva em sua memória a lembrança do histórico duelo entre Brasil e Uruguai na final do Sul-Americano de 1919. Friedenreich foi aclamado como o autor do gol do título, mas o goleiro teve papel importantíssimo para segurar o poderoso ataque adversário durante os desgastantes 150 minutos de jogo.

Marcos foi um dos grandes entusiastas do futebol logo que ele foi lançado. Além de se destacar na seleção brasileira, participou do primeiro tricampeonato carioca do Fluminense entre 1917 e 1919, time que teria sempre um lugar cativo em seu coração. Sua filha Bárbara, falecida em 2015, aos 91 anos, revela o motivo que o fez escolher a posição de goleiro.

“Ele teve uma pleurisia (inflamação que afeta os pulmões) aos 14 ou 15 anos. Era uma coisa complicada. Quando surgiu a moda do futebol, ele perguntou ao tio dele, que era médico, se ele poderia jogar. O tio disse que havia uma única maneira de praticar o esporte sem correr. A solução era ser Goleiro. A altura acabou ajudando também, já que ele tinha 1,87m.”

O arqueiro teve em seu currículo futebolístico os títulos do Carioca de 1913 pelo América, e da Copa Roca de 14 e do Sul-Americano de 22 pela seleção. Quando abandonou o futebol, trabalhou durante um tempo em uma usina siderúrgica. Após a aposentadoria, pôde dedicar sua vida a pesquisar e escrever livros sobre a história do Brasil. De personagem, passara a ser um analista da memória brasileira.


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E como bom tricolor, Marcos de Mendonça fazia questão de que o time vencesse o Flamengo.

“Com a minha mãe aconteceu uma coisa muito divertida. Uma mulher reconheceu o sobrenome dela em uma assinatura e perguntou se ela era esposa do Marcos. Com a confirmação da pergunta, disse: “A senhora não sabe como ele pegava”. Minha mãe retrucou: “Como não? Namorei, noivei, casei com ele.” A mulher então completou: ‘Não! Eu sou Flamengo. Eu é que sei o quanto ele pegava'”, encerrava Heliodora, divertindo-se ao lembrar-se do pai.

Como historiador, Marcos Carneiro de Mendonça foi membro do IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e criador do Centro de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPH). Marcos dedicou parte de sua vida à pesquisa sobre o século XVIII no Brasil e especializou-se no período do Marquês de Pombal e seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado e as ligações destes com o Brasil.

Sua biblioteca, com cerca de 11 mil volumes, incluía obras dos grandes viajantes Rugendas, Debret, Maximilian Von Wide, uma coleção Brasiliana completa e ainda 7 mil documentos inéditos, adquiridos dos descendentes do marques de Lavradio, acervo que hoje se encontra na Academia Brasileira de Letras.

Pesquisador reconhecido, publicou, entre outros, os seguintes títulos: O Intendente Câmara (1933), O Marquês de Pombal e o Brasil (1960), A Amazônia na era pombalina (1963), Erário Régio (1968), Raízes da formação administrativa do Brasil, séculos XVI – XVIII (1972), Aula do Comércio (1982), A Independência e a Missão Rio Maior (1984), Rio Guaporé, Primeira fronteira definitiva do Brasil (1986), Século XVIII Século Pombalino no Brasil (1988), pesquisas que desenvolveu em sua biblioteca, as últimas de 1982 a 1988, à frente de uma equipe patrocinada pela Xerox do Brasil, que tinha como coordenador o professor Elmer C. Corrêa Barbosa. Todas estas pesquisas resultaram em livros publicados com o selo da empresa patrocinadora e integram a coleção Biblioteca Reprográfica Xerox, todas as edições esgotadas.

Foi membro também do Conimbricensis Institute, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, dos Institutos Históricos de Minas Gerais, Petrópolis, Niterói e Guarujá e do Centro de Estudos da Marinha, de Portugal, tendo sido presidente da Sociedade Capistrano de Abreu.

Como dirigente, foi presidente do Fluminense F.C. entre 1941 e 1943, conquistando o bicampeonato carioca em 1941, no famoso Fla-Flu da Lagoa. Nascido em Cataguases – MG, em 1894, faleceu no Rio de Janeiro em 1988.

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