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  • Rogger da Costa

O ÚNICO BRASILEIRO A JOGAR NO ATHLETIC BILBAO

Certamente já ouvimos dizer que “tem brasileiro em todo lugar”. No futebol não poderia ser diferente. Nosso jogadores atuam em diversas ligas estrangeiras e já desbravaram diversos mercados. Dos principais campeonatos, poucos times não têm ou tiveram um brasileiro em seu elenco nos últimos anos.


No campeonato espanhol, palco onde brilharam craques como Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e Bebeto, os brasileiros são 21 na atual temporada, estando presente em metade dos 20 clubes da primeira divisão. De estrelas como Neymar, Daniel Alves e Marcelo a coadjuvantes como Paulão, Felipe Mattioni e Charles, o Brasil é o terceiro país com mais representantes na competição, atrás apenas da Argentina e naturalmente, da Espanha.


Entre os times onde os brasileiros não atuam, dois merecem ser citados pela sua política de contratações. Athletic Bilbao e Real Sociedad, equipes do país basco, território que compreende províncias da Espanha e da França, têm preferência por jogadores com raízes nessa região. O Bilbao, mais rígido, só permite atletas nascidos ou com ascendência basca que tenham crescido no país Basco, enquanto a Real Sociedad, embora durante muito tempo também tenha seguido o exemplo do rival, passou a permitir estrangeiros desde 1989 (espanhóis, por outro lado, apenas os de origem basca são aceitos).

Dos dois times, o Athletic Bilbao dificilmente passa por muitas mudanças no elenco de uma temporada para outra. Com, na última temporada, 100% de jogadores espanhóis, o clube basco sofre para se manter competitivo no globalizado futebol atual.


Poucos estrangeiros defenderam o Bilbao na história. O chileno Higinio Ortúzar , o filipino Ignacio Larrauri, o mexicano Javier Iturriaga, os franceses Laporte e Lizarazu, o venezuelano Amorebieta, hoje no Fulham, e o brasileiro Biurrun. Não, você não leu errado. Isso mesmo, um brasileiro já defendeu o clube mais fechado da Espanha. Vicente Biurrun, hoje aposentado, foi um dos raros estrangeiros a jogar pelo Athletic Bilbao.


Vicente Biurrun, filho de imigrantes bascos, nasceu no dia 1º de setembro de 1959, na cidade de São Paulo. Foi morar cedo na Espanha, aos cinco anos, e jogou toda sua carreira no país. Devido às suas raízes bascas, Biurrun atuou tanto por Athletic Bilbao quanto por Real Sociedad. Além dos dois times, também jogou por Osasuna e Espanyol.


Biurrun começou a carreira na Real Sociedad. Teve que brigar por posição com Luís Arconada, lenda do clube e goleiro menos vazado no Campeonato Espanhol por 3 temporadas consecutivas, o que acabou levando o brasileiro a não disputar nenhuma partida pela equipe. Transferido para o Osasuna, foi titular do time em 2 das 3 temporadas que ficou por lá, chegando até mesmo a ser cogitado para disputar a Copa de 1986 pela Espanha.


Do Osasuna, Biurrun chegou ao Athletic Bilbao, onde foi titular nas 4 temporadas que jogou pela equipe, disputando mais de 100 jogos pelo clube. Além disso, Biurrun também atuou pela seleção Basca, não reconhecida pela FIFA. Depois, se transferiu para o Espanyol, saindo do clube depois de 3 temporadas, após o rebaixamento para a segunda divisão. Seu último clube foi a Real Sociedad, onde começou a carreira. Embora tenha ficado mais dois anos na equipe, novamente não conseguiu se firmar e disputou apenas 6 partidas até se aposentar em 1995.


Recentemente, a PLACAR entrevistou Biurrun e contou sua história. Você confere a entrevista completa abaixo:


Como sua família foi parar no Brasil?

Meu pai era torneiro mecânico e foi para o Brasil em um momento de dificuldades para tentar fazer dinheiro. Minha mãe foi depois e nascemos eu e meu irmao no bairro do Brás, na rua 21 de abril, em 1959. Vivi em São Paulo até os cinco anos, infelizmente o negócio não funcionou e em 1964 minha família decidiu voltar para o País Basco.


E depois disso nunca mais voltou a sua terra natal?

Nunca. Meu irmão foi recentemente, disse que é um bairro bem pobre e que nossa casa já não existe mais. Sou basco, mas por essa casualidade de ter nascido ali sempre tive muita simpatia pela seleção brasileira nas Copas do Mundo e também pelo Corinthians.


Então o senhor é corintiano?

Eu brinco que é meu time de lá. Não sei por que, tenho uma foto muito pequeno com uma camisa branca e preta do Corinthians e uma bola no pé. Então sempre digo que no Brasil torço para o Corinthians.


E quais foram suas referências do futebol brasileiro?

Várias. Pelé, Zico… Minha primeira recordação é a Copa de 70, aquele time com Jairzinho. Depois vieram vários craques.


E enfrentou algum desses craques brasileiros?

Sim, me lembro que em 1991, joguei contra o São Paulo daquele jogador famosíssimo, nao me lembro o nome… Raí! Foi um torneio Cidade de Barcelona, o São Paulo era um dos melhores times do mundo. Perdemos de 4 a 2, Raí marcou um gol. Não é uma das minhas melhores recordações.


Como começou sua história no futebol?

Vim com cinco anos para San Sebastián. Aqui, como no Brasil, se joga muito futebol no praia, e eu também comecei ali. Meu pai jogava e eu treinava com ele no gol. Joguei em vários times de praia até que a Real Sociedad me chamou para o juvenil. Cheguei ao time principal em 1981 e participei do segundo título da Real Sociedad. Nessa época não havia como jogar, pois o titular era Luís Arconada, o melhor goleiro do país, mas foi um período em que aprendi muito.


E como chegou até o rival Athletic Bilbao?

Antes eu passei pelo Osasuña, outro clube da região, onde estive por três temporadas e joguei a Copa da Uefa. E aí sim fui contratado pelo Athletic, o que diminuiu um pouco essa cobrança por jogar no rival. Em Bilbao vivi o melhor momento da minha carreira, joguei durante quatro anos seguidos.


Com qual dos dois se sente mais identificado?

A Real sempre foi meu clube, da minha cidade, mas acontece que vivi meu auge no Athletic, fui mais feliz ali.


Quais são as principais diferenças entre os clubes?

Creio que os torcedores do Athletic sao mais eufóricos, mais fiéis ao time da cidade. Aqui em San Sebastián as pessoas são mais frias. Cada um tem sua história. A Real Sociedad é um time que trabalha melhor sua categoria de base, na minha opinião. O Athletic olha mais para os vizinhos. Por sua filosofia de só contratar bascos, tem de buscar os melhores da região e por isso é tão antipopular por aqui.


O senhor também é um dos poucos que atuaram pela seleção espanhola e pela basca, não?

Sim. Não cheguei a participar de jogos oficiais pela seleção espanhola, fui reserva do Zubizarreta, outro grande goleiro basco. Fiz amistosos antes da Copa de 1990, mas foi no fim não fui chamado. Ao menos me deram um relógio de consolação, dei de presente para minha mulher (risos).


E havia problemas entre os bascos e os atletas de outras regiões da Espanha?

Na minha época nunca houve nada, nos dávamos berm com catalães, madrilhenos, a relação era boa, até porque havia muitos bascos no time. Acho que talvez exista mais problema hoje.


O que faz agora?

Sou agente de futebol. Depois que deixei os campos em 1995, um amigo me propôs que o ajudasse e gostei, estou há 25 anos no ramo. Hoje mesmo estava vendo uma partida juvenil para captar talentos. Busco atletas de 12 a 20 anos.

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