- Rogger da Costa
N'KONO, A INSPIRAÇÃO BUFFON, QUASE JOGOU NO BRASIL?
Em entrevista ao Uol Esporte, o ex-goleiro da seleção de Camarões falou sobre o curioso episódio que quase culminou em sua contratação por Flamengo ou Fluminense, e como ele escolheu o Espanyol. Confira os trechos abaixo:
"Me procuraram o Fluminense e o Flamengo. E não deu certo pela distância que separava o Brasil da África, o intermediário demorou para chegar, a comunicação era diferente. Eu tinha três ofertas (da dupla Fla-Flu e do Espanyol) e digo: 'o primeiro que chegar, leva'. Por sorte para mim, chegou primeiro o representante do Espanyol, que estava mais perto"
O Flamengo era campeão sul-americano e mundial (81) e seria campeão brasileiro em 82 e 83, sempre comandado por Zico. E com Raul Plassmann no gol. Já o Fluminense tinha como goleiro Paulo Vítor, que seria campeão brasileiro em 84. Ou seja, que o Espanyol tenha contratado antes deve ter sido o melhor mesmo para todas as partes - N'Kono foi titular do clube durante quase toda a década de 80 e hoje trabalha lá. "Tudo foi perfeito para mim e estou aqui até hoje, dentro do mundo do futebol"
N'Kono também falou um pouco sobre o Mundial 2019 e elogiou o trabalho dos preparadores dos goleiros brasileiros
O ex-goleiro conta que viu "mais ou menos" a final entre Flamengo e Liverpool, ano passado. "O futebol atual é muito equilibrado". E, conhecedor que é da posição, elogiou Diego Alves ( "mostrou seu valor aqui na Espanha")
Os elogios mais contundentes, no entanto, vão a outros. "É surpreendente, não? Antes se dizia que os goleiros brasileiros não eram bons. Tem que dar uma medalha aos formadores e treinadores de goleiros, graças a eles houve essa mudança. Gente como Alisson e Ederson tem um nível muito, muito alto, tem que valorizar a importância dos formadores brasileiros."
Seria impossível uma conversa com N'Kono não abordar o tema racismo, pois um goleiro africano na Espanha de 1982 não era algo exatamente comum.
O camaronês enxerga o momento atual, com protestos mundo afora pedindo o fim do racismo, como único na história. Haverá um antes e um depois da morte de George Floyd.
"Vivi muitos casos (de racismo) e encarei com muita filosofia. Você está dentro do mundo do futebol e é um privilegiado. Tem gente que sofre muito mais do que nós. Por exemplo, uma pessoa que está em uma cidade e não consegue alugar uma moradia por ser negro"
"Estamos vivendo um momento de mudança. Não são só os atletas negros que estão se manifestando, é todo mundo, são todas as raças, todos os continentes. Depois deste momento da pandemia, essa é a melhor notícia, um momento de mudança, que se pense no ser humano antes da cor da pele".
A entrevista completa do Thomas N'Kono, em espanhol, está aqui abaixo em vídeo: