- Rogger da Costa
FRANTIŠEK PLÁNIČKA - O MAIOR GOLEIRO DA TCHECOSLOVÁQUIA
Considerado um dos maiores goleiros do século XX e o maior de seu tempo, foi um dos mais prestigiados atletas da antiga Tchecoslováquia. Jamais foi expulso em seus quase mil jogos e 16 anos de carreira, o que lhe rendeu um prêmio da UNESCO por seu fair play, em 1985.
Nascido em 02/06/1904, foi o último remanescente da equipe vice-campeã mundial de 1934 a falecer, em 1996. Tendo atravessado o século XX, Plánička vira a terra de nascimento mudar quatro vezes: nascido no Império Austro-Húngaro, viveu na Tchecoslováquia após a Primeira Guerra Mundial, no Protetorado da Boêmia e Morávia durante a Segunda Guerra Mundial, novamente na Tchecoslováquia, agora comunista, após a Segunda Guerra, e morreu no terceiro ano da recém-criada República Tcheca.
Era janeiro de 1926. E como em outros meses e anos, muitas coisas aconteceram neste ano também. Por exemplo, a temperatura historicamente mais baixa foi registrada em uma área habitada no hemisfério norte (-71 ° C) na vila de Ojmjakon. Por outro lado, um evento completamente diferente estava entretendo as pessoas nas terras tchecas.
No décimo sétimo dia daquele ano, František Plánička, um dos melhores goleiros do mundo de todos os tempos, estreou na seleção de futebol, sendo um dos poucos futebolistas que nunca trocou de clube na sua carreira inteira.
František Plánička era leal apenas ao Slavia Praga. Ele passou 15 anos com eles, jogou 969 partidas (742 vitoriosas), ajudou o Slavia a conquistar oito títulos nacionais e em 1929 chegou à final da Copa Mitropa, na qual o Slavia perdeu para o húngaro Újpest FC.
Plánička ingressou no Slavia em 1923 de uma forma relativamente curiosa. Desde os 14 anos jogava no SK Bubeneč. Para que ele pudesse jogar pelo time adulto, a equipe adulterou seu documento, deixando-o alguns anos mais velho.
De início, sua vontade era jogar pelo Sparta, mas eles o recusaram, pois era apenas um "pequeno garoto" (que aliás seguiu 'pequeno' até o fim da vida. Em seu auge, tinha apenas 1,72m de altura). Então, seus passos foram para o Slavia. Eles o queriam, mas o Bubeneč. não queria deixá-lo ir. No final, Plánička parou de perguntar e simplesmente foi com o Slavia a um jogo em Viena, onde, com mais uma adulteração de documentos, começou com o nome de Jakubec.
No entanto, isso não pôde ser mantido em segredo e SK Bubeneč enviou todo o caso para a federação da época, denunciando o crime. A decisão foi simples, o Slavia pagou uma multa de 300 coroas e Plánička ficaria com a equipe.
Ele amava muito o futebol e, portanto, sua vida era principalmente sobre isso. Ele manteve um estilo de vida rigoroso, nunca fumou, bebia café e apenas ocasionalmente bebia um copo de vinho tinto.
Como de costume na época, odiava usar luvas (que eram feitas de lã e, convenhamos, mais atrapalhavam do que ajudavam), então jogava sem elas. De acordo com relatos, apesar da estatura, tinha agilidade dita "incomum", além de grande qualidade nas traves, o que lhe rendeu o apelido de "O gato de Praga".
Naturalmente, também houve momentos em que não usar as luvas trazia problemas. Talvez porque naquela época o futebol ainda se jogasse com bolas com cadarços bem apertados à mostra. "Quando eles se soltavam, pedaços da bola voavam no seu rosto, ela poderia facilmente cortar você. Outras vezes, cortava seus dedos, por exemplo", lembrou em entrevista". Minha cabeça estava machucada após cada partida, e aos poucos perdi todos os meus dentes", dizia.
Plánička trocou sua típica camisa do clube, um suéter azul com uma estrela no peito, apenas em um caso – ao trocar para a camisa da seleção. Ele jogou 73 partidas oficiais pela Tchecoslováquia e foi capitão em 37 delas. Jogou a Copa de 1934 já com 30 anos. Logo na estreia, se destacaria, saindo como o melhor jogador da partida contra a Romênia, garantindo com suas defesas uma vitória tchecoslovaca por 2 x 1. A Copa iniciava já em mata-mata e aquela partida era válida pelas oitavas-de-final. Nas quartas, a Tchecoslováquia passou sem tantas exigências contra a Suíça.
O ponto culminante de sua carreira na seleção foi a Copa do Mundo de 1934, quando a Tchecoslováquia perdeu na final na prorrogação para a Itália por 1 a 2, e Plánička se tornou uma das estrelas do torneio.
Na primeira Copa realizada na França, ele era um dos quatro remanescentes da Copa anterior, sendo mantido no renovado elenco tchecoslovaco mesmo aos 34 anos. Em nova Copa iniciada em mata-matas, a Tchecolosváquia superou a Holanda por 3 x 0 na prorrogação na primeira partida. Nas quartas-de-final, enfrentaria o Brasil.
A última partida de Plánička pela seleção foi a partida contra o Brasil, conhecida por sua violência como “A Batalha de Bordeaux”, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1938. A partida terminou com 1: 1 e aos 83 minutos Plánička trombou violentamente com um adversário. Ele sentiu uma dor aguda na mão, mas terminou a partida e também os acréscimos. Mais tarde, os médicos descobriram que seu braço havia sido quebrado (e nem pela primeira vez) e ele não conseguiu mais jogar o jogo de desempate. Como resultado, a Tchecoslováquia perdeu 1:2. Restou a Plánička o consolo de ser escolhido o melhor goleiro da Copa.
Já com idade avançada, sua carreira encerrou de vez com a Segunda Guerra Mundial no ano seguinte, em que a Alemanha ocuparia a Tchecoslováquia.
Plánička continuou a jogar futebol após sua aposentadoria, mantendo um estilo de vida saudável e condição física. Jogou futebol como hobby até seus 70 anos! Sempre fiel a seu estilo de jogo agressivo, parou de jogar definitivamente quando machucou gravemente o joelho ao pular sob os pés do atacante.
Em 1994, depois de receber um prêmio de mérito esportivo, Plánička afirmou que gostaria de ver o Slavia vencer o campeonato ainda vivo. Na temporada 1995/96, após uma espera de 48 anos, o Slavia conquistou o título da Liga, e Plánička conseguiu celebrá-lo. Dois meses depois, ele morreu aos 92 anos. Na época de sua morte, ele era o último membro vivo da seleção tcheca na Copa do Mundo de 1934 e o último jogador sobrevivente de qualquer equipe a jogar na final.
Em sua carreira, disputou um total de 1.235 partidas, sofreu apenas 1.073 gols. Até os últimos momentos de sua vida, ele ia à sua amada Eden Arena para ver os jogos do Slavia.

