Marta foi eleita a melhor do mundo pela primeira vez no ano de 2006. Desde esse feito nunca foi realizada nenhuma ação de marketing para valorizar este acontecido. Seria por se tratar de uma mulher, melhor do mundo no país do futebol dos homens?
O título de melhor do mundo de uma jogadora brasileira seria uma grande oportunidade para divulgar, lucrar e também massificar o conceito de que mulheres não só podem jogar futebol como podem se tornar as melhores do mundo!
10 anos se passaram desde a primeira eleição de Marta como melhor do mundo, e o atraso é maior do que parece, pois já em 2006 a seleção brasileira de futebol feminino era tetra campeã sul-americana (1991, 1995, 1998, 2003), bronze olímpico (1999), prata olímpica (2004), bicampeã da Universidade (2001 e 2005), campeã Panamericana (2003), vice campeã da copa Ouro (2000). Isso não justificaria ações ou oportunidades de marketing e investimento?
Em contas rápidas, até o ano de 2016 foram cerca de mais de 20 pódios internacionais entre medalhas de ouro, prata e bronze, além de Marta, eleita pela FIFA 5 (cinco) vezes a melhor jogadora de futebol do mundo.
Até então a Confederação Brasileira de Futebol e seus patrocinadores, incluindo o fornecedor de material esportivo da seleção nunca produziram nenhuma campanha de marketing em reconhecimento ao futebol das mulheres, categoria essa que com o baixo, ou quase nenhum, investimento e estrutura e que mesmo assim tem hoje em seu currículo expressivos resultados.
Camisas da Seleção Feminina para comprar em lojas físicas e/ou virtuais? Essa foi uma das grandes reclamações dos apaixonados pela modalidade durante estes 10 longos anos de esquecimento.
Eis que nas Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016, a má campanha da seleção masculina de Futebol gerou protestos da torcida e foi necessário um menino com a camisa do Neymar com o nome riscado e escrito abaixo o nome de Marta para que as empresas e a mídia questionassem: “ué, onde estão as camisas da seleção feminina de futebol?”.
Não é apenas a gestão e estrutura do futebol feminino que estão atrasadas no Brasil. As empresas de artigos esportivos e produtos para mulher, os departamentos e profissionais de marketing da maioria das empresas do país desconhece a força do marketing e o potencial do futebol feminino e de suas conquistas para a criação e/ou fortalecimento de uma fatia de mercado capaz de gerar muitos milhares de reais de retorno, mas não sem antes planejar e investir de forma estratégica nele.
O marketing tem, ou deveria ter, o papel de criar e satisfazer demandas e mercados, dando ao consumidor o produto certo, na hora e local certos, no preço certo e até criando novas necessidades ao consumidor.
O que vemos no Brasil hoje em relação não só ao futebol feminino mas ao esporte feminino e a mulher dentro da prática esportiva, seja de lazer/participação ou rendimento, é um total atraso e perda de grande oportunidade de explorar essa fatia de mercado gerando retorno financeiro e social para as empresas, para o esporte feminino, para as mulheres e para o Brasil.
Esse total atraso é ocasionado não apenas pela falta de visão, mas por um claro pensamento limitado e machista em relação a como a mulher é vista na prática do esporte. É cultural, mas as empresas precisam trabalhar para quebrar estes conceitos e passar a ganhar dinheiro com esse mercado hoje abandonado.
Desde o início da nossa seleção feminina, em 1986, o futebol feminino brasileiro nunca ganhou destaque de nenhuma empresa relacionado a produtos para a mulher ou de patrocinadores de times ou da nossa seleção de futebol – e a cesta de produtos de limpeza da bombril não conta -, o que prova que este atraso em relação ao MARKETING e o futebol feminino é bem maior do que estes 10 anos entre o primeiro título de Marta e a primeira olimpíada da América do Sul.
Será que agora as empresas darão maior atenção à modalidade ou depois das olimpíadas voltaremos ao esquecimento?
Ficamos no aguardo desta resposta.