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  • Caio

Bardi e a experiência de participar da clínica de goleiros ZPro, nos EUA

Atualizado: 19 de mai. de 2020

Feliz em poder voltar para os EUA, hoje os dias são bem diferentes de quando aqui estive pela última vez em 2017, e devido à correria, acabei não tendo tempo de escrever a respeito. Mas dessa vez o farei.

Os Estados Unidos não disputaram a Copa Do Mundo de 2018, e existe um porque de não estar entre as maiores seleções do mundo: o processo é cruel com crianças e adolescentes.

Entre palestras teóricas e treinamentos no campo, foram 15 dias em duas cidades diferentes Denver e Columbus (Nebraska). Vocês podem acompanhar abaixo um pouco de como foi, e me fez entender melhor esse processo no qual são treinados os americanos.


Oportunidade

Novamente a oportunidade foi me dada pelo dono da empresa ZProFutbol, que, diferente de 2017, me ofereceu duas cidades para participar dos treinamentos, Denver e Nebraska. Mal sabia eu que entre uma cidade e outra eram 9/10 horas de van. Mesmo trabalhando consegui um tempo para poder voltar e ter novamente essa experiência que posso considerar única. Os dias passaram voando e a hospitalidade da família de Zuriel, bem como a amizade com os demais treinadores, contribuíram muito para isso.


Clínicas

As clínicas começaram na cidade de Denver com idade entre 15 a 18 anos. Os goleiros tiveram a oportunidade de treinar como se treina no mais alto nível, experimentaram e aprenderam técnicas distintas da sua normalidade. Espanta que algumas técnicas como a de usar o giro do quadril para levantar ou a famosa quebrada é proibida em alguns clubes, o que não deixa os alunos tentarem algo diferente, algo para sair da sua zona de conforto.

Cada clínica tem sua forma de realização respeitando faixa etária dos goleiros. Começamos com o aquecimento em grupo, algum jogo lúdico específico, passando pelas demonstrações explicativas de técnicas específicas onde os próprios goleiros tiveram a oportunidade de participar. Cada grupo de goleiros, contendo em média 8 goleiros, realizava exercícios específicos com a dinâmica de cada treinador responsável pela sua estação, em média de 8 a 10 minutos por estação. Foram realizados também aulas de Yoga e palestras com intuito de fazer os atletas entenderem o porque de certos treinamentos, a necessidade de se errar e aprender com o erro, o cuidado com o treinar demais e seus resultados maléficos.

A turma de Denver CO, onde foram 2 clínicas 3 dias, com idades entre 15-18 anos e 3 dias com idades entre 09-14 anos, se mostravam mais desenvolvidos na parte coordenativa, e técnica (dentro daquilo que se entende o que é certo dentro da cultura americana), porém deixavam a desejar na parte de comprometimento com os exercícios. Já a turma de Nebraska, visivelmente lhes faltavam o treino. Por outro lado transbordava a vontade de treinar. Era nítido no olho de cada criança ali a vontade de treinar, aprender a qualquer custo, mesmo nos dias de frio intenso e um vento chato que parecia cortar a pele se mostravam fortes, querendo cada vez mais. Confesso que me identifiquei com muito deles, na questão de querer, tentar, apesar de não saber, querer aprender, apesar do clima, querer pular, apesar do barro cair, sacudir e levantar. Que lição.


ZProFutbol

As clínicas em geral são uma fonte de renda para escolas, empresas e clubes. O que realmente gostei e me incentivou a voltar e trabalhar com esse pessoal foi a proposta e dinâmica, o foco sempre foi claro: as crianças tinham que entender o porque, não simplesmente treinar, para cansar, e ir descansar, como a maioria das clínicas por aqui fazem.

Todas as palestras que realizei e até mesmo os treinamentos, Zuriel me deixava claro, de enfatizar os porquês e com razão.


Cultura Contra o Esporte

Em 15 dias trabalhando diretamente com os americanos pude vivenciar e escutar relatos que mostram que o país necessita reavaliar sua formação de atleta se um dia quiser ser realmente uma potência no esporte. Relatos de atletas que perderam jogos e foram obrigados a viajar 7 horas acordados, com o assistente e treinador os acordando a cada cochilo como punição. Paradas para abastecer o ônibus onde ninguém pode descer, muito menos comprar algo para comer ou beber. A pressão diante de uma falha em um jogo as vezes começa dentro de casa, os pais cobram crianças de 11, 12, 13 anos como se fossem profissionais, e ainda há os torneio juvenis contendo 3 ou 4 jogos num único dia.

Deixar as crianças brincarem, errarem, aprender com seus erros, criando autonomia, parece algo inimaginável num país de tanta grandeza e importância para o mundo. Parece que se esquece que para ser grande é preciso antes ser pequeno, errar, brincar, pensar e ser feliz e o esporte, o futebol, bem como ser goleiro interfere a tudo isso.

Me sinto feliz e responsável de alguma maneira poder estar ajudando e ligado a pessoas que por mais que sejam minoria hoje, buscam o que é certo em vez de dinheiro no bolso.


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