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  • Caio

A menina que sonhava em ser jogadora de futebol

“Essa é uma estória de uma menina que sonhava em ser jogadora de futebol!

Seu nome? Tereza!

Tereza desde muito pequena, assim como muitas meninas, gostava muito mais de futebol do que bonecas. 

Ela chutava pedras, latas, toquinhos de madeira, laranjas e qualquer coisa que pudesse transformar em “bola”. 

Eram chutes pra lá e pra cá, até que começou a jogar com os meninos. E não é que Tereza se destacava?! Todos diziam que jogava como meninos, mas na verdade ela jogava como uma menina de muito talento. Futebol era sua religião!


Não demorou muito para que ela ouvisse elogios sobre como jogava bem. Infelizmente também ouvia muitos comentários machistas e maldosos sobre o que se tornaria por jogar futebol, por se misturar com os meninos. Mas ela, por sorte, tinha seus pais que apesar de toda humildade, nunca ligaram para isso e gostavam de ver o talento de sua filha no futebol.

Apesar do imenso talento, faltava na sua cidade e no seu estado escolas de futebol, times de futebol e campeonatos de futebol feminino. Jogar com os meninos na rua, campinho ou campão era o que restava.

Foi então que, muitos golzinhos na rua e peladas no campinho com os meninos depois, a menina “de alegria nas pernas”  teve uma incrível notícia: A seletiva da CBF passará pela sua cidade!

Que alegria! Tereza ficou eufórica! Seria sua grande chance de mostrar seu futebol e seu talento que, mesmo que ainda bruto e com necessidade de maior refino, lhe proporcionavam destaque em todos os campinhos da sua região por onde passava.

Com sua chuteira velha, surrada e apertada, a peneira veio e Tereza se esforçou ao máximo.O destaque lhe rendeu um período de treinamento com a seleção brasileira de futebol! Parece um grande sonho que se torna realidade.

Após todo período de treinamento, Tereza voltou pra casa e foi recebida como um herói dos filmes com direito a abraços, lágrimas e ser carregada nos ombros.

A menina que chutava tudo que via pela frente como se tivesse uma bola de futebol nos pés a todo momento, voltou à sua realidade.

Sem time feminino em nenhuma cidade próxima, sem nenhum campeonato de futebol feminino para jogar. Sem a chance de despontar para um clube onde ela vai ser vista e lembrada com mais frequência. 

A opção é ir para São Paulo. Quilômetros e quilômetros de distância para tentar, na cara, coragem e sorte, arrumar um time de futebol onde possa ter reais oportunidades. Tereza tem grandes sonhos, mas sua vida também é cercada de grandes dificuldades. 

Por sua condição de vida, dificilmente conseguirá sair da sua cidade e ir para a cidade do Futebol feminino no Brasil (São Paulo). Mesmo depois de muita luta, resta a Tereza, guardar a chuteira, engolir seu choro e sufocar seus sonhos porque ela tem uma família para ajudar e apesar de seus 15 anos, já é hora de trabalhar e ajudar no sustento de sua família.

Tereza é mais uma menina que enterrará seus sonhos por não haver no seu estado uma gestão adequada da federação local de futebol que vise desenvolver e oportunizar o futebol feminino. 


Tereza ainda chora, noite após noite. Seu choro a embala até pegar no sono e no dia seguinte lhe resta esquecer o que sonhou para tratar da realidade que a cerca e das necessidades que não esperam que sonhos aconteçam.

E lá vai ela, cuidar de filhos de vizinhos, fazer faxinas, lavar roupas, capinar se for preciso, para tentar levar pra casa o sustento que o futebol feminino dificilmente lhe dará um dia.

Adeus futebol! Foi bom enquanto durou!”

A narrativa acima trata-se de um conto, mas se confunde com a realidade de milhares de meninas que sonham em jogar futebol aqui no Brasil.

A falta de oportunidades, falta de fiscalização e falta de incentivo nos estados para o desenvolvimento de futebol feminino destroem sonhos e tiram oportunidades. Até mesmo meninas que por sorte terão um dia a oportunidade de chegar a uma seleção voltarão para seus estados e não terão onde jogar e trabalhar seu futebol.

O que resta a muitas é mudar de estado, largar sua vida atual e ir para os poucos lugares do Brasil onde existe um futebol feminino um pouco mais estruturado (ou menos desestruturado).

É contra isso que precisamos lutar! É isso que precisamos mudar!

Hoje não existe no Brasil nenhum órgão que fiscalize a modalidade e tenha um planejamento claro e objetivo que vá ajudar no crescimento do futebol feminino.

Conheço dezenas de meninas que largaram o futebol por falta de oportunidade. Quantas mais largarão o sonho?

Enquanto meninas continuarem sem oportunidade de jogar futebol em cada um dos estados do país, enquanto meninas precisarem mudar de cidade ou estado para tentar jogar futebol (sem a certeza de conseguir), não poderemos dizer que o futebol feminino está evoluindo!

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