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  • Rogger da Costa

A história de Harry Gregg, um herói no Desastre de Munique

Atualizado: 15 de mai. de 2020

Quando Harry Gregg acordou, em meio àquilo que mais parecia um pesadelo, pensava que estava morto. O goleiro do Manchester United se encontrava dentro da cabine de passageiros do Airspeed AS-57 Ambassador, aeronave que caíra nos arredores do aeroporto de Munique, após a terceira tentativa frustrada de decolagem. O norte-irlandês retomava a sua consciência, tentando recobrar os movimentos, mas sentia o sangue escorrendo sobre a sua face. Algo acertou seu crânio com força, deixando-o atordoado. Então, percebeu a luz que entrava na cabine. Chutou o buraco para conseguir escapar. Estava de volta à vida, ainda que a morte o rondasse tão de perto.

Gregg fazia parte dos Busby Babes desde o ano anterior. Fez sua estreia em 21 de dezembro de 1957, menos de dois meses antes do acidente. O goleiro de 25 anos começou a sua carreira profissional no Doncaster Rovers, após despontar na sua Irlanda do Norte natal. Apresentava um nível tão bom que se tornou objeto de cobiça do célebre time treinado por Matt Busby, bicampeão inglês ao Manchester United e também entre os clubes mais temíveis da Europa. Não à toa, os mancunianos quebraram o recorde da época na contratação de um goleiro, desembolsando a então astronômica quantia de £23 mil para contar com seus serviços. Era um sonho realizado ao novato, que logo se tornaria parte importante do elenco.

Gregg assumiu a titularidade na Copa dos Campeões 1957/58 a partir das quartas de final, suplantando Ray Wood. Depois da vitória por 2 a 1 em Old Trafford, comemorou a classificação contra o Estrela Vermelha graças ao empate por 3 a 3 em Belgrado. E com a vaga às semifinais nas mãos, o Manchester United viveu a jornada que mudou a sua história. A viagem de volta à Inglaterra contava com uma escala em Munique. Em meio à forte nevasca que caía na Alemanha, as condições de voo não eram favoráveis. Ainda assim, foram três tentativas de levantar voo. A última delas, fatal.

“Nós estávamos jogando poker. Eu posso vê-los agora. Eu estava vencendo. Ganhava todas. Descemos para a pista pela primeira vez. E o avião girou de um lado para o outro. Atrás do lugar onde estava, havia uma senhora e um bebê. Depois da segunda tentativa, nós voltamos para o terminal do aeroporto. Johnny Berry disse: ‘Nós todos vamos morrer aqui’. E Liam Whelan respondeu: ‘Se isso acontecer, estou pronto’”, relembrou Gregg, ao RTE.

A predição não era sem sentido. E no retorno ao avião, tudo aconteceu: a pista escorregadia não permitiu que o Airspeed AS-57 Ambassador ganhasse altitude. A aeronave passou pela cerca que demarcava os limites do aeroporto e atravessou uma rodovia logo à frente. Uma das asas bateu em uma casa, enquanto a cauda foi arrancada. O lado esquerdo da fuselagem atingiu uma árvore. Já na outra parte, os destroços se chocaram com uma cabana de madeira, na qual se encontrava um caminhão cheio de pneus e combustíveis. A explosão foi mortal a parte dos passageiros e da tripulação.

“Eu olhava pela janela, as rodas começaram a deixar o chão e… Bang! Houve uma colisão repentina e os destroços começaram a me bombardear por todos os lados. Em um segundo eu estava na luz. No seguinte, nas trevas. Não havia gritos, apenas um terrível barulho do metal se cortando. Algo bateu no meu crânio como um ovo cozido. Fui atingido novamente no rosto. O gosto do sangue estava na minha boca. Tinha medo de colocar as mãos na minha cabeça. Um silêncio estranho substituiu o caos, pontuado apenas pelo interminável chiado. Tudo estava escuro – era como se o tempo tivesse congelado. Desorientado, um boletim de pensamentos aleatórios tomou minha cabeça. Eu não iria ver minha filhinha e minha esposa. Eu não veria minha mãe e minha família de novo. E eu não falava alemão. Então, eu percebi um feixe de luz que vinha acima de mim, à direita”, narra, em sua biografia.

Gregg recobrava a consciência. Soltou o cinto de segurança e tentava abrir caminho rumo à luz. Ao colocar a cabeça para fora, uma cena assustadora: viu Bert Whalley, técnico da base do United, com os olhos abertos e nenhum sinal de vida. Fez um buraco maior com um chute e conseguiu sair do avião. Ao seu redor, tudo era tragédia, com corpos espalhados pela neve, enquanto o fogo tomava o desastre. Gregg caminhava pensando que ninguém havia sobrevivido. “Eu me senti sozinho e sem ajuda. Achava que todos se foram, que tudo acabara”. Diante do cheiro de combustível que pairava na atmosfera, instintivamente correu. Então, viu outros sobreviventes também correndo e o Capitão James Thain, piloto da aeronave, com um extintor de incêndio nas mãos. “Corra, seu estúpido, que isso vai explodir!”, gritou o comandante.

Neste mesmo momento, Harry Gregg ouviu um choro. Lembrou-se da criança e da mãe que sentavam logo atrás dele. Depois de chamar (em vão) os outros sobreviventes para o salvamento, abriu outro rombo na fuselagem. Sob destroços, conseguiu encontrar a bebê praticamente ilesa, apenas com um corte na testa. Entregou-a a um membro da tripulação e voltou à aeronave. Também achou Vera Lukic, a mãe da menina, bastante machucada. Esposa de um diplomata iugoslavo, ela estava grávida, o que o goleiro não sabia. O heroísmo do norte-irlandês salvou mais duas pessoas.

Em 2007, às vésperas dos 50 anos do acidente, Gregg retornou a Belgrado. Encontrou Vera Lukic, a filha Vesna e também o filho Zoran, nascido após aquele desastre. O iugoslavo afirmou que esperara aquele momento por toda a vida. A chance de dizer muito obrigado a quem tornou sua vida possível. Gregg respondeu: “Você não precisa me agradecer. Eu fiz o que precisava ser feito, sem pensar nisso. Eu vivi sendo chamado de herói, mas não sou realmente um herói. Os heróis são pessoas que fazem coisas corajosas sabendo das consequências de suas ações. Naquele dia, eu não tinha ideia do que estava fazendo”.

Não à toa, o medo não tomou a mente de Harry Gregg naquele 6 de fevereiro sombrio, mesmo depois de salvar a família iugoslava. Ele retornou à fuselagem e continuou arriscando a própria vida, em meio aos escombros, sob iminente risco de novas explosões. Encontrou o goleiro Ray Wood e o ponta Albert Scanlon, mas não conseguiu movê-los do local, achando que ambos estavam mortos. Tentou procurar o Jack Blanchflower. Também nascido na Irlanda do Norte, o meio-campista era seu melhor amigo desde a adolescência, quando eram convocados às seleções escolares.

Em meio à busca desesperada por Blanchflower, Harry Gregg encontrou outros dois parceiros de time: Dennis Viollet e Bobby Charlton. Mesmo achando que ambos estavam mortos, o goleiro puxou os corpos dos escombros e os arrastou por alguns metros na neve, até que estivessem a salvo de riscos maiores. Também ajudou o técnico Matt Busby, severamente machucado pelo acidente e gemendo pelas dores nas pernas. Quando finalmente avistou o amigo Blanchflower, confrontou outra cena atemorizante. “Eu sei que vi Jackie deitado, em meio à neve derretida pelo calor do fogo, e Roger Byrne, que estava morto. Jackie não viu Roger e estava chorando: ‘Greggy… Eu quebrei minhas costas’. Olhei para baixo e seu braço direito estava pendurado”, recontou, à BBC. O arqueiro fez um torniquete no braço do companheiro. Com fraturas na pélvis, nos braços e nas pernas, além de lesões nos rins, Blanchflower passou dois meses internado e nunca mais voltou a atuar profissionalmente.

A partir de certo momento, as explosões se tornaram sucessivas. Gregg ainda tentava retornar aos escombros, mas precisava correr para longe do local a cada novo estrondo. O goleiro mal pôde acreditar quando avistou Bobby Charlton e Dennis Viollet novamente despertos, olhando fixamente para as chamas. Então, os sobreviventes foram reunidos em um ônibus, que os levou para longe do cenário de guerra, encaminhando-os para o hospital. Um dos mais lúcidos, ao lado do zagueiro Bill Foulkes, o norte-irlandês foi chamado para identificar os colegas que recebiam tratamento. Ficou em sua mente a imagem de Ray Wood com o olho saltado para fora do rosto.

Um grupo de enfermeiras ainda tentou oferecer os cuidados a Harry Gregg e Bill Foulkes, mas ambos se negaram. Afirmaram que estavam bem e decidiram deixar o hospital. Levado a um hotel de Munique, o goleiro permaneceu próximo a uma janela, observando o entorno, mas com o pensamento distante. “Fiquei ali por um tempo que pareceu a eternidade. Perplexo com o que acabara de acontecer, eu olhava os carros na rua abaixo gradualmente desaparecerem sob um cobertor de neve”, relembra. Não dormiria naquela noite, atormentado pelas visões.

Gregg e Foulkes permaneceriam na cidade por mais alguns dias, indo o hospital e novamente até o local do acidente. Em uma das visitas aos companheiros acidentados, viu Duncan Edwards perguntando a que horas aconteceria o jogo. Dias depois, quando já estava de volta à Inglaterra, descobriu a morte do prodígio. Foi a última vítima do acidente. Pela primeira vez desde então, o goleiro chorou. “Professor Maurer, chefe do hospital em Munique, e sua equipe salvaram muitas vidas. Eu sei o que eu fiz. Eu sei o que eu vi”, declara o veterano.

Milagrosamente, Harry Gregg estaria em campo 13 dias depois do acidente. Faria parte do time que tentava superar os traumas, mesmo desfalcado da maioria absoluta de seus jogadores. Ao lado de Bill Foulkes, o goleiro foi um dos únicos que seguiu em frente naquele primeiro momento. Diante de 60 mil torcedores em Old Trafford, o Manchester United derrotou o Sheffield Wednesday por 3 a 0 e avançou à fase seguinte da Copa da Inglaterra. Em março, a dupla ganhou a companhia também de Bobby Charlton, totalmente recuperado. Já em abril, retornaram também Dennis Viollet e Kenny Morgans.

O time cheio de reservas, garotos da base e contratações emergenciais ainda chegou à decisão da FA Cup, além de ter encerrado o Campeonato Inglês na nona colocação. Matt Busby, a salvo mesmo após ser desenganado pelos médicos e receber a extrema unção duas vezes, estava nas arquibancadas de Wembley para ver seu time, então treinado pelo assistente Jimmy Murphy – que não viajara a Belgrado, por compromissos com a seleção galesa. Os Red Devils perderam do Bolton por 2 a 0, terminando com o vice-campeonato na Copa da Inglaterra. Já nas semanas seguintes, o time disputou as semifinais da Copa dos Campeões, contra o Milan. Os ingleses venceram o jogo de ida por 2 a 1, com um gol de Viollet, mas acabaram eliminados pela goleada por 4 a 0 no San Siro. Apesar da insistência do Real Madrid para que o United fosse proclamado campeão continental, a Uefa não acatou a ideia. Tricampeões europeus, os merengues também ofereceram o troféu aos mancunianos.

Harry Gregg teve ainda outra empreitada a partir de junho. Algoz da Itália nas Eliminatórias, a Irlanda do Norte se classificou pela primeira vez a uma Copa do Mundo. E confiou no goleiro do Manchester United, sobrevivente de Munique, para defender a sua meta. Os norte-irlandeses protagonizaram uma surpreendente campanha, eliminando Argentina e Tchecoslováquia na fase de grupos. Sucumbiram apenas nas quartas de final, derrotados pela França do inspirado Just Fontaine. Gregg acabou eleito pela Fifa como o melhor de sua posição no Mundial. Os milagres do camisa 1, sobretudo na fase de grupos, foram vitais para o sucesso de seu país. Entre seus companheiros estava Danny Blanchflower, capitão e irmão mais velho do amigo Jackie.

“Você sabe, o futebol realmente me salvou depois do acidente. Voltar ao treino e arrancar todo aquele sentimento de mim. E aquele era o melhor clube do mundo. Eu não sabia disso naquela época, mas voltar à rotina, dividir as jogadas, xingar as pessoas e me meter em brigas na partida salvou minha sanidade naquele momento”, analisa Gregg. A motivação o empurrava, embora as frequentes dores de cabeça fossem um problema. O arqueiro tomava algumas pílulas, até que resolveu visitar um neurocirurgião e descobriu: tinha uma fratura no crânio. Nada que interrompesse sua trajetória.

De volta ao Manchester United, Gregg seguiria trabalhando com Matt Busby. Já em 1962, lidaria com outra tragédia, diante do falecimento de sua esposa, vítima de um câncer de mama. Era pai de duas meninas pequenas. “Munique não foi o pior momento da minha vida, e sim a perda da minha primeira esposa. Ela foi diagnosticada e pensei que sobreviveria, mas o câncer se espalhou. Tenho que admitir que fiquei em pedaços. Precisei mandar minhas duas filhas para a Irlanda do Norte, onde minha mãe cuidava delas. Acabei vivendo como um completo animal. Em Munique, vi a morte em uma escala horrenda, mas é muito diferente quando ela bate em sua porta”, reflete. Na mesma época, sofria com uma séria lesão no ombro que ameaçava a sua carreira. Tudo era mais difícil, mas o camisa 1 se recuperou psicologicamente e fisicamente, retomando a titularidade.

Ídolo em Old Trafford, Gregg foi dono da meta ao longo de sete temporadas, mas perdeu espaço apenas por conta das contusões – algumas delas, consequência também de um acidente de carro, no qual quebrou uma perna e danificou o joelho. No hospital, ouviu de Busby: “Quantas vidas você acha que tem?”. Ainda assim, o arqueiro fez parte do grupo que faturou a Copa da Inglaterra em 1963, bem como estaria presente nas reconquistas do Campeonato Inglês em 1964/65 e 1966/67. Com 247 partidas no currículo, seu adeus aconteceu justamente um ano antes que os Red Devils, enfim, levantassem a taça da Copa dos Campeões. Uma década depois do desastre em Munique, Matt Busby estava no comando da equipe que ainda contava com Bill Foulkes e Bobby Charlton, derrotando o Benfica em uma emocionante final em Wembley. O goleiro, aos 35 anos, era convidado de honra nas tribunas. Naquela temporada, se aposentou, após uma rápida passagem pelo Stoke City.

De qualquer forma, é possível dizer que Gregg deixou seu legado à conquista da Copa dos Campeões de 1968. Desde o início da década, o veterano tinha servido como uma espécie de tutor a um jovem compatriota, que chegava sob grandes expectativas de Sir Matt Busby: um tal de George Best. Quando estava lesionado, o veterano foi disputar uma partida com aqueles que faziam testes e tomou três canetas do garoto. “Se você fizer isso de novo, quebro o seu pescoço”, disse, o que foi encarado com risadas por Best. Logo se tornariam amigos. O treinador botou o novato sob as asas do goleiro, para que se adaptasse a Manchester. Era o responsável por cuidar das chuteiras do camisa 1. “Eu considerava isso uma honra. Gregg é meu herói. Bravura é uma coisa, mas Harry fez mais do que bravura. O que ele ofereceu em Munique foi algo sobre bondade”, afirmaria o ponta, protagonista no título europeu.

Harry Gregg, no entanto, sempre preferiu afastar de si o rótulo de herói. Em seus tempos como técnico, até trabalhou como assistente de Dave Sexton no Manchester United, mas logo deixou o cargo. Carregava em si uma culpa que se dissipou apenas em 1998, nos tributos aos 40 anos do acidente. “Eu tive sorte, eu sobrevivi, mas acabei sofrendo com uma culpa clássica aos sobreviventes. Eu não podia encarar o encontro com os familiares dos meus companheiros que morreram. Eu não podia olhar no olho dessas pessoas, sabendo que eu continuei vivo, quando seus amados pereceram. Finalmente confrontei meus demônios em 1998. Falei com Joy Byrne, esposa de Roger, que disse a mim: ‘Harry, até quando você vai se torturar?’. Essa noite lavou os anos de amargura”, contou.

Desde então, Gregg participou de eventos e homenagens relativas ao Manchester United. Em 2012, os Red Devils foram até Belfast para disputar um amistoso em tributo ao ex-goleiro. No programa da partida, Sir Alex Ferguson o descreveu como “o herói mais relutante”. Já nesta semana, o goleiro fez parte do tributo relativo aos 60 anos do desastre aéreo. É um dos únicos sobreviventes que permanecem vivos, ao lado de Bobby Charlton. Aos 85 anos, o norte-irlandês afirmou que esta será sua última aparição em Old Trafford.

“Munique se tornou uma parte crucial do folclore do United, mas a verdade é que o que aconteceu em Munique é importante. É por isso que me entristece e me irrita que o acidente tenha se tornado parte de uma indústria que certas pessoas perpetuaram. Lucram através de meias-verdades, mentiras, mitos, distorções e exageros. O comportamento de muitos depois de Munique me incomoda, e continua especialmente quando o aniversário se aproxima”, afirma Gregg.

“O fato de haver um minuto de silêncio é um tributo às pessoas com quem joguei, mas devemos lembrar os muitos outros que faleceram. Quero que o minuto de silêncio termine e, então, quero me lembrar dos tempos felizes. É isso que eu quero que o mundo se lembre, que as famílias se lembrem. Que relembrem nossas brigas pelos melhores pares de meia, da nossa vitória por 5 a 4 sobre o Arsenal antes da viagem a Belgrado, da felicidade e dos espíritos livres depois do empate com o Estrela Vermelha, do banquete naquela noite. Lembrem-se, estes eram os Busby Babes. O desastre envolveu a morte de muitos garotos, com uma vida longa pela frente, cheios de juventude. Perder essa gente tão talentosa atingiu a muitos com força. Eles nunca serão esquecidos”, complementa.

Nos últimos anos, um acontecimento em especial mexeu com Harry Gregg: a tragédia vivida pela Chapecoense, algo que trouxe à tona as suas piores memórias. Pediu aos familiares para que ficasse sozinho diante da televisão, digerindo a notícia. “Precisava ficar com meus pensamentos. Foi duro saber sobre a tragédia. É uma luta diária. É traumático demais para ficar no passado e está comigo o tempo todo. Quando qualquer coisa acontece, fica forte a lembrança. Por isso que esta tragédia, me abalou muito”, disse para o Lance!. “Gostaria muito que você publicasse que todas as pessoas que estavam no avião e as famílias das vítimas estão nas minhas orações e pensamentos. Não apenas os jogadores. Jornalistas, tripulação, funcionários dos clubes… Todos têm famílias que estão sofrendo. Eu sei bem o que é e estou sofrendo com elas”.

A postura de Gregg não mudou meses depois, voltando à imprensa por conta dos 60 anos do acidente em Munique. Fato é que seu ato naquele dia tenebroso, visto como um imenso gesto de solidariedade, a ele representa uma chaga profunda. E uma das lembranças mais doloridas em uma vida que teve tanto mais a se contar. “Não quero que minha vida seja relembrada por aquilo que aconteceu na pista de decolagem. Não quero a estrela do xerife e nem quero ser herói. Lembrem de mim como um futebolista, não como um herói. Munique moldou meu destinou, disso não há dúvidas. Mas Munique não é minha vida”, finaliza.

Abaixo, um poema escrito por Harry Gregg e publicado pela BBC:

Como eles riram, amaram e jogaram juntos

Jogaram a partida e deram cada grama de vida

E as torcidas se aglomeraram para ver tais espíritos jovens e livres

Meu bom Deus, não foram muitos que voltaram para casa

Roger Byrne, Mark Jones e Eddie Colman de Salford

Tommy Taylor, Geoffrey Bent e David Pegg

Duncan Edwards, o menino de Dublin Liam Whelan

Meu Deus, nenhum desses voltou para casa

Eles se foram por esta longa estrada antes de nós

Mas a cada alvorada tentamos mantê-los à nossa vista

Nos olhos das memórias, os Busby Babes são imortais

O espírito dos Red Devils vive e nunca morreu


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