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  • Rogger da Costa

A HISTÓRIA DE ROBERT ENKE E O SILENCIOSO PERIGO DA DEPRESSÃO

Atualizado: 28 de ago. de 2020

Robert Enke, goleiro alemão, com passagens até pela seleção, cometeu suicídio em 10 de novembro de 2009, atirando-se à frente de um trem, vítima de uma profunda depressão que tentou tratar em segredo. Infelizmente, sem sucesso.


Enke, que tinha 32 anos, não foi o primeiro esportista e nem o último a se matar. Já se suicidaram, por exemplo, o jogador de handebol sérvio Novak Boskovic, de 29 anos, a ciclista olímpica norte-americana Kally Catlin, de 23 anos. A OMS estima que 800 mil pessoas tirem a própria vida por ano. Ou seja, há uma morte por suicídio a cada 40 segundos.


Em 10 de novembro de 2009 Robert. Enke saiu de casa pela manhã e disse à mulher que ia chegar tarde. Tinha duas sessões de treino marcadas com o preparador de goleiros do Hannover. O preparador não sabia dessas sessões. Teresa acreditou.

Só que ao final do dia Enke não apareceu em casa e Teresa ficou preocupada. Telefonou para preparador e soube não havia qualquer treino marcado. Soaram os alertas, Teresa temeu o pior. Ligou em seguida ao empresário de Robert, em pânico. Ele pediu-lhe para ver se o marido lhe tinha deixado algum bilhete em casa e ela encontrou uma carta no quarto. "Querida Terri..."


Enke vagou durante 8 horas de carro, sozinho, sem rumo. Até que parou o Mercedes a alguns metros da estação Neustadt am Rubenberge, nos arredores de Hannover, não muito longe do cemitério onde a filha Lara estava sepultada, e decidiu que tudo terminava ali. Caminhou umas centenas de metros pela linha férrea e acabou por ser atropelado por um trem regional; a polícia de Hannover. Notícias mais recentes informam que o maquinista não recuperou do choque até hoje.


O goleiro, de 32 anos, vivia com uma grave depressão, pouca gente sabia. Enke nunca superou a morte da filha Lara em 2006, com apenas 2 anos. A menina nasceu com um problema cardíaco grave e faleceu devido a complicações ocorridas numa cirurgia. O casal adotou depois uma criança, Leila, de dois meses, que tinha 8 meses quando o pai morreu. Robert adorava-a, mas Lara nunca saiu de cabeça…


Era acompanhado por um médico, Valentin Makser, que confirmou o estado depressivo do jogador. Enke tinha medo que o público soubesse da sua condição e, principalmente, que lhe retirassem a filha…

Os problemas psicológicos de Robert começaram no Barcelona, logo depois de ter chegado do Benfica. Em Lisboa viveu um dos melhores períodos da sua vida; o casal adorava a cidade, as pessoas, o clima… tudo. Ainda hoje Teresa passa férias na zona de Sintra. Planejavam um dia mudar-se para Portugal.


Enke e Teresa viviam perto de Monsanto; enquanto a maior parte dos jogadores do Benfica residia na zona de Telheiras, o alemão preferia estar mais perto da natureza e dos animais. O casal salvava tudo o que era animal abandonado que lhe aparecesse à porta.


O alemão chegou à Luz em 1999, numa fase em que o Benfica passava por um momento conturbado, com a presidência de João Vale e Azevedo, e saiu em 2002, para o Barcelona. Em sua biografia, o jornalista Ronald Reng conta que Enke teve uma proposta do FC Porto e que não a aceitou, por respeito ao Benfica. Foi para a Catalunha, mas arrependeu-se pouco depois. Começaram aí a maior parte dos seus problemas…


Passou quase um ano sem jogar. Virou reserva de Valdés. Mas num jogo da Taça do Rei o treinador Louis van Gaal deu uma chance ao alemão, diante do modesto Novelda, último classificado da 3.ª divisão. E o Barcelona perdeu por 3-2. "Enke assinou a sua sentença", escreveu o diário 'Sport' na época. Frank de Boer, o capitão de equipa, culpou publicamente o goleiro pela derrota.


Desejou nunca ter saído do Benfica, onde era feliz. Acabou por rumar à Turquia, ao Fenerbahhçe, por empréstimo, mas em apenas 13 dias estava de volta ao Barcelona. Depois de uma derrota por 3-0, em que os torcedores atiraram objetos, Enke não aguentou. Foi nesta fase que começou a ser seguido pelo dr Makser. Com a autoestima muito em baixo rumou ao Tenerife.


Em 2004 regressou à Alemanha, para o Hannover. Foi este o clube que o catapultou para a seleção da Alemanha, mas nem isso o fazia sorrir. Enke vivia com medo do fracasso, da crítica, de perder o futebol e a filha. Havia dias em que não queria sair da cama, em que se sentia mal, muito mal. Ninguém no clube sequer suspeitou, todos pensavam que não falava muito porque era uma pessoa reservada. Nada mais.


O dr Makser queria interná-lo, mas ele dizia que não, que estava bem. Mas não estava. Enke achou que apenas a morte o podia livrar daquele fardo e marcou encontro com ela naquele final de tarde do dia 10 de novembro de 2009. "Às vezes o amor não basta", disse Teresa em uma entrevista. Ela sempre fez de tudo para resgatar o marido da tristeza em que estava atolado.


Falar em depressão no futebol em 2009 e até antes disso era como falar de homossexualidade. Era, e ainda é, tabu. Ninguém admite estar triste, psicologicamente doente, pois há o medo de ser considerado fraco, de perder o lugar na equipe ou de ser humilhado pelos torcedores.


Mas nos últimos anos inúmeros atletas consagrados tem vindo a público falar sobre tema. André Gomes, no Barcelona, passou por momentos complicados; Gianluigi Buffon, Gary Neville, Iniesta e mais recentemente Marcelo já confessaram ter passado por momentos complicados.


A verdade é que a depressão continua a ser uma das principais causas de suicídio entre os esportistas. Algumas das tragédias mais recentes são as do jogador de handebol sérvio Novak Boskovic, da ciclista norte-americana Kelly Catlin e do galês Joel Darlington. Boskovic, de 29 anos, pôs fim à vida dando um tiro na cabeça a 4 de fevereiro de 2016. Um mês depois, em 8 de março, foi Catlin em casa. Ela que deixou muitos sinais de que não estava conseguindo conciliar tudo o que fazia na vida, da parte esportiva (havia sido tricampeã mundial por equipes e medalha de prata nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016) à profissional, em que fazia uma pós-graduação em Engenharia Matemática e Computacional na famosa Universidade de Stanford, na Califórnia, ela que era formada em Matemática e Chinês. Já Joel, de 20 anos, suicidou-se na garagem de casa, depois de ver a carreira comprometida por um problema físico nas costas que lhe causava profundo sofrimento.


Depressão não é “frescura”, não é “falta do que fazer”, não é “falta de Deus”. Depressão é uma doença séria e precisa ser tratada com seriedade.


Você pode conversar com um voluntário do Centro de Valorização da Vida ligando para 188 de todo o território nacional, 24 horas todos os dias de forma gratuita.


Se você preferir escrever, pode utilizar o atendimento por chat e e-mail disponível no link a seguir: https://www.cvv.org.br/ligue-188/



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