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A curiosa história de Dasaev, o goleiro do Globo do RN

Atualizado: 25 de mai. de 2020

Matéria originalmente publicada em NOVO NOTÍCIAS


Sílvio Carlos Freitas precisou dar muitas justificativas para a sua mulher, Aracleide Ferreira Freitas, quando entregou para ela a certidão de nascimento do primeiro filho do casal. O bebê que deveria ter sido batizado como João Antônio – escolha de Aracleide – havia recebido o excêntrico nome de Dasaev Matheus Ferreira Freitas, em decisão unilateral do patrono da família.

A escolha de Sílvio, pegador de pênaltis nas horas vagas, era uma forma de homenagear o seu maior ídolo esportivo dos anos 1980: o soviético Rinat Dasayev, goleiro titular da União Soviética nas Copas de 1982 e 1986 e da Romênia no Mundial de 1990, após a dissolução da União Soviética em estados independentes. O argumento não convenceu Aracleide, que continuava preferindo João Antônio a Dasaev por ser mais comum entre os cidadãos de Campo Redondo, no interior do Rio Grande do Norte, onde a família residia.

O pequeno terremoto que abalou a relação do casal em razão da discordância linguística não diminui o carinho em torno do bebê. Não fosse pelo nome russo, Dasaev, hoje com 24 anos, seria apenas mais uma criança sertaneja que crescia correndo atrás de uma bola nos campos de terra batida espalhados pelos logradouros mais remotos do sertão potiguar.

Entre idas e vindas com os pés descalços sob o terreno quente e arenoso das canchas, o garoto acabou descobrindo que não era apenas o nome que o aproximava do maior ídolo de seu pai. O Dasaev de Campo Redondo também tinha nascido para jogar futebol debaixo das traves, assim como o Dasayev soviético.

As primeiras oportunidades para mostrar seu talento vieram em competições escolares e depois em jogos amadores. Com atuações de destaque, acabou chamando atenção do Potyguar Seridoense, clube de Currais Novos, em 2009, quando tinha 16 anos. Seria a primeira oportunidade para o filho de Sílvio e Aracleide vestir a camisa de um time profissional.

A passagem pelo Potyguar foi rápida e durou apenas uma temporada. No ano seguinte, Dasaev trocou Currais Novos pelo Recife. Iria atuar pelo time Sub-17 do Náutico, um salto de patamar na carreira. “Fiz toda a minha formação enquanto goleiro profissional no Náutico. Cheguei lá muito inexperiente e eles me deram a bagagem suficiente para me tornar profissional”, contou Dasaev ao NOVO na segunda-feira passada.

O goleiro conversou com a reportagem enquanto aguardava no saguão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante para embarcar para a Bahia, onde o Globo, seu atual clube, teria pela frente dois compromissos importantes por competições distintas. O primeiro aconteceu na quarta-feira contra o Fluminense de Feira, em Feira de Santana, pelo jogo de ida da pré-Copa do Nordeste. O segundo está marcado para amanhã, sábado, às 18h30, contra a Juazeirense, em Juazeiro-BA, pela primeira partida das semifinais da Série D do Brasileiro.

O time de Ceará-Mirim se credenciou para enfrentar a Juazeirense em uma noite que dificilmente será esquecida por Dasaev. O goleiro de 1,87m saiu do banco de reservas para pegar duas cobranças de pênaltis da mineira URT e garantir o primeiro acesso nacional da história do Tricolor.

Dasaev chegou ao Globo em 2015 e, desde então, ‘amarga’ a reserva do goleiro Rafael. Neste período, segundo ele, disputou apenas três jogos pelo clube, incluindo a atuação brilhante contra a URT. As poucas chances de aparição, ao contrário do que se pode imaginar, não diminui a autoestima do goleiro, que conta com o apoio do técnico Luizinho Lopes e dos colegas de elenco para seguir trabalhando duro nos treinamentos. “O Luizinho [Lopes, treinador] sempre fala para a gente se preparar para os jogos. Lembro que estudei bastante como os jogadores da URT costumavam bater os pênaltis, além de ter treinado bastante as cobranças durante a semana. Na hora das penalidades, fiz apenas o que havia estudado e acabei pegando dois pênaltis”, revela.

O camisa 1 ainda fez outras importantes defesas no tempo regulamentar, impedindo que o time de Ceará-Mirim sofresse gols e acabasse eliminado do campeonato. A quatro jogos do título inédito de campeão da Série D do Brasileiro, Dasaev acredita que poderá escrever seu nome na história do Globo. “O time vai brigar até o final por esse título”, garante.

Sonho

Apesar do nome Russo, Dasaev não almeja disputar partidas no leste Europeu. Adotou o Milan como time do coração no Velho Continente. No Brasil, não esconde a paixão pelo gaúcho Grêmio. O goleiro do Globo sonha em vestir a camisa destes dois clubes, embora reconheça que o caminho é dos mais difíceis.

Por ora, acredita no projeto do time de Ceará-Mirim. “O Globo é um time jovem, mas que tem um planejamento muito bem definido. Conquistamos o acesso e vamos disputar a Terceira Divisão na próxima temporada. É um primeiro passo para se afirmar como clube grande. Espero continuar no Globo por muito tempo e conquistar títulos com essa camisa”, projeta.

Em função da lesão de Rafael, Dasaev foi titular do Globo contra o Fluminense de Feira, na quarta-feira – o jogo acabou empatado em 1 a 1 -, e vestirá novamente a camisa 1 do time de Ceará-Mirim contra a Juazeirense amanhã, pela primeira partida das semifinais da Série D.

O goleiro espera aproveitar a sequência para provar que pode brigar pela titularidade. “Quero deixar uma dúvida na cabeça de Luizinho”, brinca.

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