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  • Rogger da Costa

Inter, Doni, J. Achterbeg, Roma e Klopp – Histórias e o caminho até Liverpool

Atualizado: 18 de mai. de 2020

“Havia tantos aspectos positivos – o físico dele, como ele comandava a grande área, o conforto dele em construir jogadsa – mas o que imediatamente se destacou foi a sua tomada de decisões. Você pode passar horas trabalhando em aspectos técnicos, mas você tem que ter capacidade de ler situações e reagir para que você faça as coisas difíceis parecerem simples”.

O treinador de goleiros do Liverpool, John Achterberg, está falando de algum momento no ano de 2013 quando, curvado em frente ao laptop em seu escritório em casa, começou a estudar imagens de Alisson Becker. Sua primeira impressão foi tão forte que ele começou a montar uma espécie de dossiê do brasileiro, que tinha apenas 20 anos e jogava pelo Internacional.

Um exército de olheiro estava no Brasil procurando pelo próximo craque, mas um jovem goleiro foi quem chamou a atenção de um olheiro nada convencional. Doni, ex-Corinthians, Roma e Liverpool, tinha notado o jovem goleiro do Internacional e começou a fazer anotações sobre ele. Doni estava convencido de que o teto de Alisson era muito alto, e que o brasileiro se tornaria um astro da posição nos anos seguintes.

“Mantive contato com Doni depois que ele deixou o Liverpool e, em 2013, perguntei se havia algum goleiro no Brasil que valesse a pena”, disse Achterberg à ESPN. “Ele respondeu sem hesitação que eu deveria checar esse tal de Alisson, do Internacional, porque ele seria especial.

“Eu fui atrás, e seu estilo de jogo – ele estava confortável com a bola – encaixaria perfeitamente no que precisávamos no Liverpool, mas o mais importante, ele era excelente em fazer o básico certo e muito bem. Ele anteciparia o perigo e faria todos os tipos de defesas: fácil, difícil, no alto, embaixo. Tudo isso com 1,93m de altura e um bom físico”.

Achterberg já estava convencido de que Alisson poderia ser aquilo que o Liverpool tanto precisava. “Ele tinha o perfil que procurávamos. O nome dele já tinha surgido um ou dois anos antes da recomendação do Doni. O problema, naquela época, seria conseguir um passaporte de trabalho para ele”.

A esposa de Alisson, Natalia Loewe, tem parentes da Alemanha e da Itália, então a dupla estava tentando conquistar a nacionalidade ítalo-brasileira quando a Roma gastou cerca de R$ 21 milhões para contratar o goleiro do Internacional em julho de 2016. Por sorte, a mudança para a Serie A incentivou o Liverpool a intensificar sua análise, dadas as exigências técnicas elevadas da liga italiana.

Alisson estava frustrado como substituto de Wojciech Szczesny durante sua temporada de estréia em 2016-17, jogando apenas alguns minutos nas Copas. Mas os Reds já haviam tido a oportunidade de examiná-lo de perto em agosto de 2016, durante um amistoso disputado nos Estados Unidos.

“Ele jogou muito bem, e eu disse ao técnico Jurgen Klopp que era ele o goleiro de quem eu tanto falava”, diz Achterberg. “Na temporada seguinte, ele seria o titular da Roma e confirmaria todas as expectativas”.

Em dezembro de 2017, o Liverpool não estava sozinho em ver Alisson como alvo principal. Real Madrid e Chelsea também tentaram a contratação do brasileiro, mas o Liverpool tinha a vantagem de estar observando Alisson há mais tempo. Os gigantes espanhóis acabaram ficando com Courtois, e o Chelsea acabou perseguindo Kepa Arrizabalaga, enquanto o time de Anfield foi para cima da Roma, que não queria liberar Alisson por menos de cerca de R$ 290 milhões.

O goleiro, que tinha conhecido – da pior forma – o poder de Anfield durante a goleada por 5 a 2 sofrida na semifinal da Uefa Champions League, em abril de 2018, estava convencido. Mas outros obstáculos estavam no caminho. Os italianos viram Loris Karius falhar duas vezes na final contra o Real Madrid, tirando do alcance do Liverpool o título europeu. Eles subiram o valor de Alisson para cerca de R$ 420 milhões.

Foi só em julho que a Roma cedeu um pouco e aceitou a oferta do Liverpool de R$ 278 milhões.

Klopp descreveu Alisson como “um dos melhores goleiros do mundo” quando sua contratação foi anunciada há mais ou menos um ano, mas como Trent Alexander-Arnold afirmou à ESPN, “não há ninguém melhor hoje em dia também”.

O jogador de 26 anos é campeão da Champions League e da Copa América, fundamental para ambos os triunfos. Na Premier League, foi o goleiro menos vazado. Ele foi rotulado como “transformador” em Melwood, junto com Virgil van Dijk, e havia confiança de que ele teria tanto impacto na retaguarda, nos resultados e na psicologia do Liverpool quanto o defensor mais caro do mundo.

A apresentação do elenco para Alisson aconteceu andar inferior do Hotel Royal, em Evian-les-Bains, no verão passado, onde o clube ficou para treinar. Quando ele entrou na sala, as reações foram tantas que um jogador chegou a dizer: “Coloquem esse cara na p*** do meu gol”.

Pausas aconteciam nos primeiros treinamentos de Alisson para aplaudir suas defesas.

“Logo de cara, ele teve um impacto muito grande no elenco com suas reações e defesas espetaculares, mas também com a maneira que ele começava as jogadas”, diz Achterberg. “Assim que ele pegava a bola, boom, era contra-ataque, porque as reposições dele eram muito boas”.

A comissão técnica acreditava que o verdadeiro desafio viria quando Alisson cometesse seu primeiro grande erro. Ele veio contra o Leicester, em 1 de setembro de 2018, quando ele hesitou depois de receber um passe ruim de Virgil van Dijk no segundo tempo, o que permitiu a Kelechi Iheanacho tirar a bola dele e tocar para Ghezzal marcar. Alisson não deixou o erro afetá-lo e ele assumiu o erro após a partida, dizendo à ESPN Brasil: “Foi um julgamento ruim, eu cometi um erro ao ler a jogada. Eu não consegui um passe muito bom. Temos que aprender com nossos erros”.

A maneira com a qual ele reagiu foi elogiada no vestiário. “Ele se manteve positivo, então a equipe fez igual”, diz Achterberg. “Se você joga de costas, há sempre risco. Os jogadores precisavam fazer opções mais rápidas para ele, para que ele pudesse encontrar uma solução mais cedo.

“É realmente importante se você cometer um erro, você perceber que já passou e seguir em frente, e foi o que ele fez. Você tem que ser maior do que o erro que você cometeu”.

Clemer, que treinou Alisson no Internacional B, viu os mesmos atributos quando o goleiro ainda era adolescente: ele nunca perdeu o foco após uma falha. Esse foi o seu caso, com dois minutos de acréscimo para impedir Arkadiusz Milik de vencer o jogo para o Napoli na última rodada da fase de grupos da Champions League.

O Liverpool vencia por 1 a 0 e tinha que vencer para avançar para a fase eliminatória, quando o cruzamento de pé esquerdo de Jose Callejon caiu aos pés do atacante polonês dentro da área, com apenas Alisson em sua frente. A velocidade com que ele reagiu ao perigo, a inteligência de seu posicionamento e seu tamanho deixaram Milik em pânico, e o atacante finalizou em cima dele.

“A defesa que Allison fez, eu não tenho palavras para isso, foi, claro, um salva-vidas”, disse Klopp na coletiva pós-jogo, mas muitos questionaram se era realmente tão bom assim. Foi um exemplo da afirmação de Achterberg de que o brasileiro tem o dom de fazer as coisas difíceis parecerem simples.

Marco Savorani, treinador de goleiros da Roma e considerado o melhor da sua área na Itália, fez a mesma observação. “Alisson é capaz de simplificar tudo. Ele lê o jogo, é muito calmo e calculado”, disse ele no ano passado.

Klopp sempre aponta para a defesa de Alisson contra o Napoli como um dos momentos decisivos da temporada 2018-19 do Liverpool. Por mais que os gols contra o Barcelona naquela virada impressionante na semifinal sejam lembrados pela maioria, os próprios jogadores do Liverpool admitem que, sem Alisson, eles não teriam conseguido parar Messi e cia. na partida de volta.

Alisson se destacou nos maiores palcos ano passado, e suas atuações estão claras nos títulos que conquistou por seu clube e país. Ele conquistou os três mais prestigiados prêmios de goleiros e disputou nove jogos consecutivos sem sofrer gols, em todas as competições, antes de chegar à final da Copa América. Isso incluiu Messi por duas vezes – Barcelona e a Argentina – além de Harry Kane.

Desde que foi para o Liverpool, ele já tem 35 jogos sem sofrer gols. Lev Yashin, lenda da União Soviética, foi o primeiro e único goleiro a conquistar a prestigiada Bola de Ouro em 1963, mas Alisson certamente deve participar da conversa neste ano. Ele é muito humilde para se considerar um possível candidato, minimizando essa conversa no mês passado. “Há muitos grandes jogadores aspirantes a esse prêmio”, disse ele. “Eu sou apenas um goleiro.”

Roberto Negrisolo, ex-treinador de goleiros da Roma, já tinha a resposta na ponta da língua.

“Ele é o número 1 dos que usam a número 1. Ele vale tanto quanto Messi porque é tão importante quanto Messi. Ele é o tipo de goleiro que pode definir uma era”.

Há um ano, as pessoas diziam que o preço pago por Alisson se provaria, em pouco tempo, uma barganha. Como o próprio Klopp admitiu, Alisson vale facilmente o dobro, como provou regularmente nos últimos 12 meses.

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