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Futebol Feminino espera crescer com a obrigação dos times masculinos de manterem uma equipe feminina

Tenho conversado com muitas pessoas do meio do nosso futebol feminino. Profissionais das mais variadas áreas e posições dentro do esporte, bem como com atletas, jornalistas e críticos da modalidade e sem dúvida todos concordam – inclusive eu – que a modalidade começa a ter uma esperança. Concordamos também que essa obrigatoriedade não é o ideal e que a entrada dos times de camisa não vai “salvar” a modalidade, mas é sim um começo.

Alguns problemas, infelizmente, muito me incomodam. Queria eu estar tranquilo e feliz com as novidades, mas o triste é que por mais que exista todo um discurso bonitinho de “queremos a evolução e estamos fazendo o melhor pelo futebol feminino” todos os anos, os mesmos erros se repetem sempre e deixam claro que o descaso continua.

Fica claro os discursos vazios e pra fazer média com a modalidade! Só que ela não precisa de média nem de politicagem: Precisa de atitude de quem quer de fato fazer algo BEM FEITO!

“Ah Eduardo, mas estão sim fazendo algo que muitos não fizeram e a coisa vai crescer sim!”

Tudo bem! Você aí vai achando que a obrigatoriedade dos times de camisa do futebol masculino de terem times femininos é um começo e a salvação da modalidade pra trazer público, visibilidade, interesse e investimento para a modalidade.

Se analisar bem, se ler com atenção e calma deixando a euforia de lado, notarão que existem muitas pontas soltas,  questionamentos e necessidades sem resposta ou com respostas que vem nas entrelinhas e não são satisfatórias.

Vamos exemplificar alguns pontos:


Público e visibilidade: Não há nenhum estudo sobre quais os melhores horários e formas de atrair público. Esperam que times de camisa atraiam suas torcidas para os jogos femininos, mas isso não vai acontecer afinal não estudamos se os horários dos jogos são compatíveis para isso, ou ainda se estes horários e datas conflitam com jogos do futebol masculino, fazendo assim uma concorrência desleal afinal o torcedor dará preferência ao time masculino por questões histórias, culturais, de expressão, de divulgação, marketing e massificação do esporte, ferramentas que os clubes investem no masculino mas não investem quando o assunto é esporte feminino. Sem investimento em promoção dos jogos/divulgação, aí mesmo que público e visibilidade continuarão, a exemplo dos últimos anos, nulo!


Interesse e investimento: O novo regulamento não responsabiliza os clubes em nada. Eles apenas precisam ter uma equipe, própria ou parceira, para dizer que tem futebol feminino. Mas os clubes investirão de seus bolsos? Financiarão a montagem dos times ou terão uma “verba caução” para suprir qualquer falta que possa ocorrer do parceiro ou patrocinador em relação ao time feminino? Claro que não! Então o investimento não virá e consequentemente o interesse será apenas pela obrigação e nada mais.

O problema da não evolução da modalidade nunca foi a ausência dos clubes tradicionais do futebol masculino, afinal o futebol feminino tem seus clubes de tradição que lutam há anos por espaço e investem na modalidade e aqui nem entrarei no mérito de se o investimento e gestão são adequados ou não.

Claramente o problema da estagnação do esporte é a ausência de Gestão da modalidade Futebol Feminino. Uma gestão especializada e focada única e exclusivamente no futebol feminino, parcerias e ações para seu crescimento e massificação.

Outro fator que não anima na relação da entrada dos clubes de camisa do futebol masculino é que não existe no Brasil nenhum órgão fiscalizador do futebol feminino, logo, a modalidade é totalmente desamparada. Não por acaso que situações morais e profissionais dentro da modalidade acontecem e se repetem ano após ano.

Enfim, o que quero dizer é que a entrada dos clubes de futebol masculino no universo do futebol feminino é sim bem vinda, porém muitos detalhes precisam ser corrigidos pois fica claro o descaso quando a tabela do Brasileiro Feminino, como todos os anos anteriores, não respeita o prazo entre divulgação e início da competição, conforme exige o estatuto do torcedor. Ou ainda, fatos como jogos sem policiamento, médicos ou ambulância, também como em anos anteriores.

Além dessas questões, não há nenhuma justiça em abrir vagas para os times do futebol masculino disputarem o brasileiro sem investir em nada anteriormente. Cadê o mérito e reconhecimento aos clubes de tradição femininos que mantém equipes e lutam há tanto tempo? O mais adequado seria que estas equipes montassem equipes, disputassem seus campeonatos estaduais da categoria, e então, através da classificação (título ou vice-campeonato) teriam uma vaga na competição nacional feminina que deixaria de ser por ranking, mas definida pelo número de vagas de cada estado de acordo com número de equipes participantes nas competições estaduais.

Os detalhes no cuidado com qualquer coisa no mundo são indicadores fiéis da preocupação e intenção de fazer algo bem feito. Sendo assim, os detalhes que são esquecidos no futebol feminino dão a tônica de como a modalidade continua sendo tratada por aqui.

Como exemplos dos pontos positivos não podemos esquecer de forma alguma que com essa obrigatoriedade muitas meninas terão oportunidade de jogar e começar seu sonho dentro da modalidade e que a premiação ajudará aos clubes. Mas olhando de forma crítica e de pés no chão é importante que as competições sejam mais longas, que o bolsa atleta também seja mantido no brasileirão feminino (a exemplo de como era na copa do brasil) e que a estrutura básica necessária seja dada às atletas em todos os sentidos e tudo que precisarem para sua preparação e evolução dentro da modalidade e das competições, coisas que hoje não temos nenhuma segurança sobre.


Mas entendam que é preciso muito mais do que apenas inserir times de camisa. É preciso bom senso, visão e gestão adequadas preocupadas com a evolução da modalidade e não apenas em ser conveniente para ajudar os times do futebol masculino.

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