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  • Rogger da Costa

Ex-goleiro Manga será o primeiro ex-jogador a morar no Retiro dos Artistas

Atualizado: 15 de mai. de 2020

Foto: Satiro Sodré/SSPress/BFR 

Goleiro da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1966 e ídolo de Botafogo e Internacional, no Brasil, e Nacional, no Uruguai, Manga será o primeiro ex-jogador a morar no Retiro dos Artistas, instituição localizada no Rio de Janeiro fundada há mais de 100 anos e que acolhe artistas idosos que passam por dificuldades financeiras e emocionais. É o caso do ex-arqueiro, de 82 anos.

Aposentado, Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, passou recentemente por uma cirurgia para tratar uma insuficiência renal aguda. A operação foi realizada no Uruguai e contou com ajuda financeira de torcedores do Nacional-URU, entre eles Mateo D’Costa, Cônsul do Uruguai no Equador — país onde Manga vive desde que pendurou as chuteiras pelo Barcelona de Guayaquil, no início da década de 80. Ele mesmo conta em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

“Eu tive um inchaço na próstata. O Cônsul do Uruguai esteve em Quito, eu não estava muito bem, e minha esposa, Maria Cecilia, perguntou se ele tinha um bom médico. Ele respondeu que sim. Então a decisão dele foi me dar as passagens e embarcar para o Uruguai. Deram casa, comida e me operaram quatro meses depois. Hoje, estou me recuperando. Faz dois meses e meio, mas estou bem. Foi um inchaço muito grande, eu não podia urinar que vinham as dores. A ajuda do Cônsul do Uruguai e também da torcida do Nacional foram muito importantes para mim. Eles arrecadaram dinheiro e deu para pagar médico, comida, não faltou nada”, afirma.

Manga conversou com a reportagem na última segunda-feira (16) no Hotel Windsor Guanabara, Rio de Janeiro. Voltar ao país de origem era uma das vontades do ex-goleiro, que agora se prepara para ser recebido pelo Retiro dos Artistas. A casa para ele morar com a esposa já está “separada”, mas ainda precisará de uma reforma. Uma campanha idealizada por dois funcionários da ESPN, Marcelo Gomes, repórter, e Fábio Lonardi, cinegrafista, visa arrecadar dinheiro com clubes e torcedores para a reforma do novo lar de Manga.

“Eu sou aposentado aqui no Brasil e sabe como é: um salário mínimo. Espero que a torcida desses clubes [Sport, Botafogo, Inter, Grêmio e Coritiba] ajudem o Manga”, diz o veterano. “Hoje, conseguimos uma ‘casita’, meu sonho é morar aqui no Brasil, e agora vou morar no Retiro dos Artistas. Moramos em Quito, mas não podemos ir para lá por causa dessa situação que está acontecendo [coronavírus]”, conta o ex-jogador, que também trabalhou como preparador de goleiros de clubes como Deportivo Quito, LDU, Barcelona de Guayaquil e Internacional.

Os responsáveis pela ‘nova casa’ de Manga

Em entrevista ao UOL Esporte, Marcelo Gomes, da ESPN, explicou como foi todo processo para que Manga viesse a ser um ‘novo integrante’ do Retiro dos Artistas, desde o convite para Manga assistir ao jogo do Botafogo contra o Bangu, no último domingo (15), no Engenhão, até a conversa com o ator Stepan Nercessian, presidente da instituição há mais de 20 anos.

“Trouxemos ele para assistir ao jogo do Botafogo, era o sonho dele, com a intenção de ele contar a história dele no Equador. Conversando com a Maria Cecilia e com ele, eles mostraram que tinham um sonho ainda maior, que era voltar ao Brasil, morar no Brasil e morrer no Brasil. Aí liguei para a Cida Cabral [administradora do Retiro dos Artistas] e ela disse: ‘dá para você ligar para o Stepan? E dois dias depois ele retornou meu recado e disse: ‘Pode trazê-lo que vamos colocá-lo como o primeiro ídolo do futebol'”, contou o repórter da ESPN.

Na última segunda-feira (16), Stepan Nercessian mostrou a nova casa para Manga. Agora, basta uma reforma caprichada para o ídolo de Botafogo e Inter começar a realizar seu sonho. “O Stepan mostrou como é o esquema para ele, mostrou a casa… Eles têm uma casa para eles viverem lá, com cinco refeições por dia, médicos, fisioterapeutas, e não vão pagar nada. Só que agora vamos começar uma campanha para arrecadar dinheiro para reformar essa casinha, e gostaria que o UOL Esporte ajudasse. É uma campanha via Retiro dos Artistas para reformar a casa, comprar uma cama, um ar condicionado, uma geladeira, um fogão… E hoje foi muito legal porque o Stepan é botafoguense, então pela primeira vez na história o Retiro dos Artistas, em mais de cem anos, está recebendo um ex-jogador de futebol para morar lá”, completa.

Manga espera apoio dos brasileiros

Se por um lado Manga recebeu ajuda de torcedores uruguaios e do próprio Nacional-URU quando precisou passar pela mais recente cirurgia, o mesmo não aconteceu com clubes e torcedores brasileiros quando o ex-goleiro precisou de ajuda financeira. Pelo menos até agora. Mas será que a história vai mudar daqui para frente?

“Não teve esse amor pela torcida do Botafogo porque foi um amor encerrado faz tempo, mas tenho um agradecimento ao presidente do Botafogo [Nelson Mufarrej] porque ele me deixou assistir à partida… Pô, um goleiro que joga dez anos no clube e conquista trunfos e não é bem visto, é muito difícil, entende? Mas eu preciso de ajuda, não estou pedindo milhões para viver a vida mais tranquila… E até agora não tive essa conversa com o presidente do Botafogo, para me ajudar. A minha senhora sempre pedia para o Internacional, para o Botafogo, e eles não respondem, e a vida é assim mesmo… Mas no Uruguai eles me ajudaram bastante, me deram casa, comida, tudo, tudo mesmo, e sou muito agradecido”, recorda Manga.

“Eu, que fui jogador da seleção brasileira conhecido mundialmente, fiz um gol de arco a arco, não tenho o reconhecimento dos clubes, e espero ter da torcida a partir de agora. Não estou reclamando dos clubes, estou dizendo que não tenho apoio, nada mais. Então espero o apoio das torcidas, dos clubes, para eu encerrar a minha vida aqui no Rio de Janeiro. Já me ofereceram uma casita para viver com a minha senhora, no Retiro dos Artistas, e agora preciso da ajuda financeira para reformar a casa”, acrescenta o ex-goleiro de 82 anos.

Mas apesar da maior ajuda por parte dos uruguaios, Manga garante que o amor que tem pelos clubes e torcedores daqui e de lá é o mesmo. O carinho continua, por todos.

“É igual. O problema é que as pessoas dos clubes daqui deveriam olhar com carinho para o Manga, que foi um homem sério no trabalho, no gol, um homem vencedor, e eu esperava tudo isso porque, quando sai um jogador que não tem nome, eles não dão muita bola, e quando tem uma figura importante como o Manga eu não tenho apoio… Fui um profissional correto na cancha [gol], jogava com o dedo quebrado e não me escondia. No Coritiba joguei com distensão, no Nacional quebrei um dedo, no Internacional quebrei dois dedos, e joguei assim contra o Cruzeiro [decisão do Brasileiro de 1975], e a recompensa não chegou até agora, entende? Pedi para me ajudarem por causa da operação, e vamos ver se daqui a três dias, uma semana, um mês, tem alguma resposta”, completa Manga

Quem quiser ajudar o ex-goleiro, deve entrar em contato com o Retiro dos Artistas. Até o momento, já foram arrecadados R$ 2 mil, além de uma geladeira e um fogão.

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